REFLEXOS DE UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE: A INFLUÊNCIA DO CONSERVADORISMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Luísa Klix de Abreu Pereira, Richard Ecke dos Santos

Resumo


O seguinte trabalho, sob orientação do professor César Hamilton Brito de Goes, busca dialogar a respeito das formas com que o conservadorismo tem inclinado-se a influenciar o ensino nas escolas brasileiras, através de pensamentos do sociólogo Pierre Bourdieu, alusão do cenário atual e do clássico filme “Sociedade dos Poetas Mortos.” Cabe, primeiramente, situar que o nascimento da burguesia se fez em meio conservador e preconceituoso; tendo como principal objetivo manter um estilo de vida dotado de privilégios para fins de soberania ideológica. Para alcançar isso, ela manteve-se incluída em todos os setores de importância da sociedade: econômico, político, educacional e cultural, a fim de preservar sua condição de vida.

Focado no âmbito da educação, olhando para o nascimento da cultura burguesa e sua manutenção, umas das teses do sociólogo Pierre Bourdieu afirma que os alunos não conseguem participar de forma igualitária nas escolas, pois cada um traz uma bagagem cultural e social diferenciada, de acordo com suas vivências, marcadores sociais e construções de visões do mundo (BOURDIEU, 1998). Afinal, cada pessoa é um ser singular, dotado de aprendizados e experiências que não devem ser apagados, mas sim usados a seu favor no ensino.

Logo, fazendo uma aplicação da tese ao cenário brasileiro, pensar em termos como meritocracia, por exemplo, seria ignorar absolutamente esses aspectos, tendo em vista a diferença social e cultural no território nacional; coisas com as quais o conservadorismo não se importa, ignora e ajuda a manter. Destarte, a escola não pode ser uma instituição com fins de homogeneização na transmissão do ensino, já que, segundo Bourdieu, é passível de questionamento a neutralidade do ambiente escolar ao passo que ela é inexistente e o ensino é dotado de uma cultura e um modelo de saber vertical herdado historicamente que, até hoje, influencia o modo como as pessoas veem o mundo. Assim sendo, não se deixa haver diversidade de pensamentos e a democracia justa se torna utópica, dentro e fora das escolas no Brasil.

Reproduzindo discursos mediante a ordem vigente que atende a maioria, enraizada nos costumes conservadores (COUTO; HOUAISS; 1989), a escola se torna uma instituição falida (BOURDIEU, 1998) na medida em que, ao olhar para a grande estrutura sistemática, exclui as minorias e tenta apagar as diferenças para que se tenha algo mais prático e útil, mantendo o ensino nas escolas elitizados e com pensamentos, muitas vezes, retrógrados, advindos da influência conservadora.

É provável por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o  sistema escolar como um fator de mobilidade, segundo a ideologia da “escola libertadora”, quando, ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais, e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural (BOURDIEU, 1998, p. 41).

 

Em subsequência, no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, o professor, situado em uma escola estritamente conservadora e inflexível a novas ideias, tenta e consegue, aos poucos, cativar e chamar a atenção dos seus alunos para novas formas de aprendizado, explorando a poesia e o livre pensar. Contudo, a escola e os pais dos alunos reivindicam que o professor seja demitido da instituição, refletindo a atual situação que diversas escolas brasileiras tem vivenciado.

Nessa lógica, fora das “telas”, menciona-se o programa “Escola sem Partido” que busca retirar a autonomia do professor em sala de aula, que já de diversas maneiras tem sua liberdade docente relativizada; afinal, tentam calar a voz de quem faz barulho. Portanto, o projeto em pauta não tem sustentação pedagógica, teórica ou jurídica, uma vez que nega a educação como realização humana, ato político e o ambiente educacional como local de discussões e trocas de experiências e pontos de vista construídos, pois nada é certo em sua totalidade, tudo são percepções passíveis de debate.

Cabe salientar que essa concepção de ensino é, apenas, mais uma forma do sistema de oprimir e continuar a delimitar o saber, incapacitando as pessoas a terem um olhar crítico ao mundo que os cerca. Tendo como objetivo manter suas posições e fazer com que as pessoas não enxerguem os ideais burgueses e conservadores, mas continuem espalhando de modo estrutural essa lógica. Assim, evidenciamos que a influência do conservadorismo está interferindo no âmbito educacional de modo a excluir o diferente e, consequentemente, fazendo a manutenção dos privilégios da classe dominante de modo gradativo, perante às suas necessidades.

E é com pesar que é analisado que a onda conservadora está mais presente do que se imaginava na educação e nos demais setores sociais, bastando olhar para o cenário atual do Brasil e enxergar os reflexos semelhantes aos de décadas atrás: um povo sem consciência e memória de suas vivências, incapacitado de alertar as novas gerações, pois se encontra reproduzindo cegamente o que um dia já viveu e também não percebeu.

Palavras-chave: Conservadorismo; educação; ensino; burguesia; influências.


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ISSN 2965-0615