A SIMBOLIZAÇÃO E O ARQUÉTIPO DA CRIANÇA DIVINA, A PARTIR DA EDUCAÇÃO GUARANI E PSICOLOGIA JUNGUIANA

Ana Luisa Teixeira de Menezes, Feliciano Siqueira de Paula Vargas

Resumo


O projeto de pesquisa Infâncias e Educação Guarani promoveu abertura para estudos voltados para os modos como a infância é vivenciada pelos povos indígenas e, a partir desta aproximação, possibilitou pensar as repercussões nos modos de ser adulto e de constituição da convivência nessa coletividade. Convivência que tem na palavra sagrada, nas “Belas Palavras” – assim como os Guarani denominam. A partir das narrativas, das histórias e das memórias, foi possível perceber o modo como os indígenas abordam e representam as primeiras experiências de vida, como acolhem “os novos que chegam ao mundo”, como integram significados espiritualizados dos “inícios” da vida com temas mitológicos e simbólicos que atravessam o tempo, unindo passado, presente e futuro ao longo do ciclo vital de cada indivíduo e das diversas gerações. Realizar reflexões em torno da criança Guarani, o nascimento, o ritual de nomeação do nome da criança denominado nhemombaraí, a caminhada da mãe e dos gêmeos e da palavra é entrar no cerne da educação Guarani. É uma tarefa complexa que temos investigado ao longo dos anos, no trabalho de pesquisa com os Guarani pois envolve um diálogo de linguagem e de um pensamento ameríndio que extrapola a condição do humano como o único ser que fala e que possui História, noções de escuta e da palavra. Todo esse desafio nos leva a caminhos epistemológicos xamânicos que podem estar presentes no cotidiano de nossos espaços educativos e clínicos, a metodologias de aprendizagens que rompem as separações do tempo e da História, a princípios educativos que possibilitam encontros espirituais, diálogos com a natureza e cultura. Adentramos em possíveis contribuições interculturais e psíquicas que perpassam não apenas universos indígenas tradicionais, mas espaços da clínica junguiana. São estudos que provocam interrelações, interaprendizagens, interculturalidades dialógicas, entre a criança Guarani e a clínica junguiana. Os mitos, os arquétipos numa visão Junguiana estão muito próximos da criança e de seu funcionamento psíquico. Destacamos, a partir de pesquisas com os Guarani, o quanto as crianças Guarani vivem próximas de uma dimensão mitológica, favorecendo, não só às crianças, mas também aos adultos, um pensamento simbólico que tem resultado numa educação integrada à saúde. Serão destacados alguns aspectos da educação Guarani que situam o arquétipo da criança divina, no qual se desenvolve a simbolização dos opostos e a vivência do abandono e do divino, como princípio educativo e psíquico. A partir da pesquisa com as crianças Guarani estabelecemos um diálogo com a prática clínica junguiana reconhecendo a contribuição deste estudo para um maior entendimento dos processos psíquicos indígenas e não indígenas, num encontro entre educação e psicologia.


Palavras-chave


Criança; Educação Guarani; Arquétipo; Mito; Psicologia Junguiana

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