A proposta deste trabalho é discutir a temática dos segredos de família no contexto do Hospital Ana Nery - HAN. O interesse pela temática se deu através da percepção da estagiária nos atendimentos e o fato de o segredo estar se tornando rotineiro no campo de atendimento psicológico. Os objetivos seriam elucidar acerca dos segredos familiares no contexto do paciente oncológico do HAN, considerando que são fenômenos sistemáticos e presentes em muitas famílias. Eles servem para esconder os nãos ditos nas famílias e, muitas vezes, para privar as pessoas de certas temáticas que lhes causam sofrimento. A metodologia utilizada é um estudo de caso, com dois atendimentos realizados para a família pautados em psicoterapia breve com duração variada de tempo. O João (nome fictício) é do sexo masculino, 64 anos, casado, 3 filhos, 17 irmãos, aposentado, histórico de tabagismo e etilismo. O paciente foi transferido de Triunfo para o Hospital Ana Nery devido a queixas de dor aguda, tendo sido submetido a um procedimento cirúrgico e uma possível cirurgia de resseção, porém os médicos o diagnosticaram com câncer de vias biliares com metástases múltiplas. O paciente desconhece a gravidade da doença, mas os familiares conhecem o mau prognóstico da doença. Logo veio a confirmação do fato de existir um segredo na família, que é o lugar que dá origem à história de cada pessoa, sendo o espaço privado onde se dão as relações mais espontâneas e é considerada, também, como um modelo universal a se viver. Ela é composta de vários elementos ou membros. Uma mudança em um de seus membros afeta todo o grupo. Sabe-se que a possibilidade de perda, pela morte, torna-se um dos fatores que podem levar o sistema familiar ao caos. Na família de João, os filhos concordaram em manter o segredo com os irmãos do paciente, com a equipe de enfermagem e os médicos. Os segredos nas famílias podem se tornar armas perigosas na política da família que têm por finalidade criar limites ou alianças com o propósito de manipular os relacionamentos. Como visto, nesta família, criam-se alianças fortificadas para não revelar o segredo, porém até que ponto esses segredos escondidos incomodam e desacomodam os membros das famílias, sendo importante mantê-los secretos. Cabe a cada sujeito refletir sobre. A morte é o segredo que não poupa nenhuma pessoa indiferentemente de sua classe, cor, raça, credo e idade. Ela nunca é esperada por ninguém e não tem tempo exato para acontecer. A morte era entendida na família de João como uma gravidade da doença que encurtaria a vida do paciente e convocaria a família a viver com a tensão de morrer. Compreender a resiliência familiar é entender o caminho que a família segue e como ela se adapta diante ao estresse, no momento atual e no futuro. A família de João conseguiu se adaptar com a notícia do diagnóstico e de um prognóstico indesejado. Foram momentos de pavor, temor, choro e de continuar batalhando e se doando àquele ente querido sem chances de cura para o seu câncer. Considera-se que a família é um suporte invisível que nos cerca e nos protege, posto isso, a perda de algum dos seus integrantes abala não só toda a estrutura, como também cada um dos indivíduos de uma maneira única. Para finalizar, tentou-se abordar com a família as fases de vida que estavam vivendo e a forma pelas quais a família associava as possíveis soluções para as adversidades.

Palavras-chave: segredos de família; morte; resiliência familiar.