ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO E CUIDADOS PALIATIVOS: AS POSSIBILIDADES DE TRABALHO COM PACIENTES ONCOLÓGICOS

Bethânia Oliveira Rodrigues, Dulce Grasel Zacharias

Resumo


A sociedade em que vivemos, segundo Kübler-Ross (1996), é propensa não somente a evitar a morte, mas, sobretudo, a ignorá-la. Entretanto, é preciso que se compreenda que tanto a morte quanto o morrer são inerentes à existência humana, pois as incertezas que perpassam o binômio “morte-morrer” atravessam os sujeitos desde o primeiro até o último estágio do desenvolvimento. Destarte, é possível perceber que diagnósticos de doenças graves e crônicas como o câncer, tornaram-se imbricados de muitos sentidos e significados atribuídos tanto pela sociedade, quanto por aqueles envolvidos neste processo, a tríade composta por paciente, família e profissionais de saúde. Nesse sentido, quando se trata de pacientes que se encontram em cuidados paliativos, sabe-se que o impacto da possibilidade de morte causa mais sofrimento para essa tríade, pois no cuidado paliativo já não existe mais viabilidade para a cura da doença, sendo abandonado o tratamento baseado em paradigmas curativos e adotada uma nova perspectiva. Esta busca contempla os princípios de cuidado que devem ser exercidos em pacientes que possuem doenças que não apresentam mais possibilidade de cura. Desse modo, o foco não deve mais se manter na doença, mas sim no sujeito que ali se apresenta, compreendido como um sujeito biográfico, preservando sua história, laços, identidade, autonomia e crenças. Assim, este trabalho tem como objetivo discorrer acerca da prática da psicologia junto ao paciente em cuidados paliativos e seus familiares. Para tanto, foi realizado um estudo de caso a partir de três atendimentos psicológicos efetuados como prática de estágio integrado em Psicologia, no Centro de Oncologia Integrado do Hospital Ana Nery COI/HAN. O paciente atendido foi José (nome fictício), masculino, 69 anos, casado, agricultor e possui 1 filho. Foi diagnosticado com câncer de pulmão e brônquios há um ano, realizando procedimento cirúrgico e não realizou tratamento quimioterápico e radioterápico. Minha intervenção psicológica se deu durante sua segunda internação, por solicitação da equipe de enfermagem da unidade na qual o paciente se encontrava internado, tendo em vista que a doença deste havia progredido de forma rápida, inviabilizando qualquer possibilidade de tratamento que objetivasse a cura. Nesse sentido, o acompanhamento teve como foco trabalhar o impacto psicológico frente à progressão da doença no paciente e em seus familiares, bem como questões que atravessam este momento, como a terminalidade. Como priorizado nos cuidados paliativos, foi possível construir em conjunto com paciente e família estratégias de enfrentamento para esse momento, possibilitando que estes pudessem compreender o processo de morte, reorganizar os papéis que ocupam dentro do sistema familiar e realizar despedidas verbais e simbólicas. Essa prática, fundamentada nos pressupostos do cuidado paliativo, deve se pautar na ótica do cuidar em saúde, buscando preservar a vida em todas as suas dimensões. Desse modo, deve-se priorizar que cada sujeito tenha autonomia, que sejam considerados seus direitos, que sua família possa estar ao seu lado durante o fim e que cada profissional, independente da área de atuação, não desista de cuidá-lo, possibilitando, dessa forma, uma boa e digna morte.

Palavras-chave: morte; cuidados paliativos; impacto psicológico.

Apontamentos

  • Não há apontamentos.