O CAPS AD III E SUA RELAÇÃO COM A COMUNIDADE: (RE)PENSANDO OS PROCESSOS DE DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Vitoria Merten Fernandes, Moises Romanini

Resumo


Este trabalho nasce a partir do projeto de análise comunitária que está sendo realizado enquanto atividade obrigatória dos Estágios Integrados em Psicologia III e IV, que realizo no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e Outras Drogas (CAPS AD III) de Santa Cruz do Sul. A análise comunitária visa à transformação social, encontrando recursos na própria comunidade, tornando-a protagonista, conscientizando-a e promovendo sua autonomia. Um pressuposto básico da análise comunitária é que esta é feita com a comunidade, com objetivos e métodos decididos com os seus integrantes, tendo, então, o que Sarriera (2010) chamou de investigadores internos e externos. É necessário escutar a comunidade e fazer uma análise de suas necessidades, transformando-as de necessidades percebidas (cognitivamente) para necessidades sentidas ou conscientizadas. A ideia de uma análise comunitária no CAPS AD é, justamente, que o serviço possa olhar para si e se (re)pensar. Assim, através de conversas com os profissionais do serviço, buscarei entender ou conhecer de quais estratégias para a desinstitucionalização e a reabilitação psicossocial de seus usuários o serviço já se utilizou. Ao narrarem essas estratégias, os profissionais (re)pensam sobre suas práticas, permitindo que o serviço tenha um novo olhar sobre si próprio. Por isso, outro momento da análise é a busca, através dos usuários em acolhimento noturno e diurno no serviço, daquilo que a comunidade tem para oferecer enquanto outras formas de tratamento (além do serviço), incluindo o lazer, a profissionalização, a educação, os esportes, a religião e o que mais possa aparecer em nossos encontros. É importante buscar recursos na comunidade quando falamos em desinstitucionalização e reabilitação psicossocial, pois tais movimentos devem ir para além dos muros do serviço. Ou seja, mais que a regulamentação dos serviços substitutivos com a Lei da Reforma Psiquiátrica em um movimento de desospitalização, desinstitucionalizar e reabilitar psicossocialmente significa promover autonomia, encontrando recursos próprios – do usuário – e comunitários para o exercício da cidadania dos usuários. Essa análise encontra-se ainda em andamento, sendo que o encontro com os pacientes tem produzido questões importantes. O que se pode perceber até o momento é que, além do serviço CAPS AD III, os grupos para dependentes são todos em igrejas e trabalham em um ideal de abstinência. Além disso, os pacientes relatam que circulam pouco pela cidade, colocando o serviço como algo central, rodeado apenas pelos grupos de apoio das igrejas e da Comunidade Terapêutica Recomeçar, com alguns incluindo suas casas ou um campo de futebol. Em seus relatos, é possível perceber que sentem não ter espaço na comunidade em que vivem, relatando preconceitos não apenas pelo uso de drogas, mas também pelo estigma criado envolta dos “pacientes CAPS”, vistos como “loucos”. Os caminhos percorridos na cidade pelos pacientes demonstram uma trajetória marcada pela sua relação com a droga, baixa procura por lazer, não citação dos estudos, e pelo receio em relação a empregos, por serem “usuários em recuperação e pacientes CAPS”.


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