Em 1963, realizou-se, no Brasil, um plebiscito para definir o modelo de governo a ser adotado: parlamentarismo ou presidencialismo. Na época, o então presidente João Goulart governava em um sistema parlamentarista, adotado de maneira preventiva em 1961, quando da renúncia do presidente eleito, Jânio Quadros. Baseando-se nesse contexto histórico, a presente pesquisa analisa a campanha e a realização da consulta popular, a partir da verificação de dois jornais, no caso, a Fôlha de Rio Pardo e Gazeta do Sul de Santa Cruz do Sul. Ambos jornais encontram-se disponíveis no Centro de Documentação da Universidade de Santa Cruz do Sul (CEDOC-UNISC). A pesquisa tem como objetivo principal apresentar a visão de uma comunidade e, principalmente, a ótica dos periódicos analisados quando da realização do plebiscito, buscando, nas entrelinhas das suas notícias, dos seus editoriais e das suas colunas de opinião, indicativos que possam enquadrá-los como atores políticos de um determinado espaço social. A metodologia adotada na pesquisa tem como base a análise de estudos historiográficos sobre o plebiscito e sobre o governo João Goulart, além da verificação de publicações dos periódicos citados, realizadas entre os anos de 1961 e 1963. No caso dos jornais, o método adotado foi o de análise de conteúdo. Baseando-se nessa metodologia, ocorreu, primeiramente, o contato inicial com os documentos, a chamada leitura “flutuante”, realizando-se, posteriormente, a categorização dessas fontes. Nessa segunda etapa, as publicações dos jornais foram divididas e classificadas em editoriais, colunas de opinião, publicações a pedido, e notícias nacionais, estudais e locais. A categorização das fontes deverá facilitar a análise, pois permitirá, de maneira mais rápida e eficaz, constatar as posições políticas dos jornais e a forma como o noticiário referente ao plebiscito foi apresentado. Ademais, permitirá enquadrar esses periódicos como atores políticos que, de alguma maneira, influenciaram a escolha do voto de seus leitores. A pesquisa encontra-se em andamento, no entanto, é possível fazer alguns apontamentos prévios. Verificou-se que jornal Gazeta do Sul apresenta em suas páginas um noticiário político significativamente maior que em a Fôlha, com uma ampla cobertura do plebiscito. No entanto, ao observar seus editorais, percebe-se que o periódico demonstra uma preocupação muito maior com a situação econômica do país na época do que com assuntos que cercam a consulta popular. Já no jornal a Fôlha, chama atenção o grande espaço que este destinou para publicações do tipo “a pedido”, vindas tanto de partidários do parlamentarismo quanto do presidencialismo. Outro detalhe importante de a Fôlha é a realização de uma enquete sobre o plebiscito, com líderes partidários locais opinando sobre a melhor forma de governo para a nação. Da mesma forma, o jornal de Santa Cruz do Sul publicou opiniões contrárias e favoráveis ao sistema parlamentar, vindas de tanto de pessoas ligadas ao jornal quanto de deputados locais e de outras lideranças. Pode-se, a partir daí, supor que esses dois jornais contribuíram para a escolha do voto dos seus leitores, seja na decisão pelo “sim” ou pelo “não”.