PAPO CABEÇA - SINTONIZANDO LOUCURA E CIDADE

Itauane de Oliveira, Teresinha Eduardes Klafke

Resumo


Este trabalho foi desenvolvido no Estágio Integrado em Psicologia da Unisc, como atividade obrigatória, em um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II. Trata-se de uma ação em saúde que tem como foco a Oficina de Rádio. Com o advento da Reforma Psiquiátrica, as formas de cuidado e atenção que são prestadas a portadores de transtornos mentais severos passaram por intensas transformações. Os principais objetivos dos serviços substitutivos ao manicômio passaram a ser a restituição da cidadania e a autonomia dos seus usuários. Assim, novos dispositivos foram inseridos na rede pública de saúde, e as Oficinas Terapêuticas passaram a ocupar um lugar de destaque como operadores políticos da Reforma Psiquiátrica, sendo um importante instrumento utilizado pelos CAPS, uma vez que auxiliam no processo de reinserção social dos usuários. A Oficina de Rádio do CAPS II de Santa Cruz do Sul teve início em 1998, um ano após a inauguração do serviço no município, sendo, dessa forma, uma das oficinas mais antigas ainda vigentes. O presente trabalho tem por objetivo analisar essa oficina com o intuito de compreender a sua importância para o processo de reabilitação psicossocial dos participantes. Para tal, foi realizada uma revisão teórica sobre os principais conceitos advindos da Reforma Psiquiátrica, para, por fim, a partir da minha experiência enquanto estagiária de um serviço substitutivo da rede de atenção em saúde mental, poder analisar, à luz desses referenciais teóricos, a Oficina de Rádio na qual estou inserida. Como resultado da análise, podemos dizer que essa oficina é um espaço valoroso para o fortalecimento da cidadania e da autonomia dos usuários, bem como um espaço importante de aproximação com a comunidade, visto que ela ocorre nas dependências da UNISC. Essa oficina foi uma das primeiras atividades do CAPS II realizada para além do ambiente físico do serviço, fazendo jus à proposta de restituição da cidadania e desinstitucionalização, visto que a apropriação de espaços culturais é de extrema valia no processo de reabilitação psicossocial das pessoas acometidas por sofrimentos psíquicos. O programa, denominado “Papo Cabeça”, é transmitido na rádio comunitária de Santa Cruz do Sul, o que colabora para a interação social dos usuários com a cidade e seus habitantes, visto que, desse modo, há uma nova forma de circulação da loucura no campo social. A organização das pautas e das gravações fica a cargo dos usuários, pois eles são os protagonistas não só das oficinas mas também do seu processo de reabilitação como um todo. Para concluir, as oficinas terapêuticas são espaços que representam muito bem o oficio de cuidar em saúde mental, pois demandam do profissional de saúde, além de bases teóricas solidificadas, atenção, delicadeza e afeto para com aquele que solicita cuidado. Ir além dos reducionismos que os CIDS psiquiátricos criam em nosso imaginário é de extrema importância para a realização de um trabalho que aposte na reabilitação psicossocial, pois somente dessa forma é possível ampliar o olhar para além dos estereótipos que rondam a loucura e o sofrimento psíquico. A Oficina de Rádio, dessa forma, alcança um dos seus importantes objetivos, oferecendo um espaço onde a voz e os pensamentos dos usuários circulam livremente, primando pelo fortalecimento da autoestima e protagonismo, propiciando, assim, a autonomia e o empoderamento deles enquanto cidadãos.

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