AS MULHERES MEDIEVAIS NA PESQUISA E NO ENSINO DE HISTÓRIA: A PROBLEMATIZAÇÃO DOS PAPÉIS SOCIAIS E OS DEBATES CONTEMPORÂNEOS

Isabela Capelari Hammes, Lavínia Oliveira Mendes, Rafaela Limberger, Diego Orgel Dal Bosco Almeida

Resumo


Este estudo visa a uma abordagem dos papéis sociais das mulheres na Idade Média, correlacionando esse tema ao âmbito escolar e à produção de conhecimento histórico no espaço acadêmico. Tendo em vista que o livro didático, não raras vezes, ocupa o centro articulador e formador do currículo e da sequência de conteúdos da disciplina de história no ambiente escolar (CAIMI, 1999, p.33), optou-se por trabalhar com a análise de conteúdo do livro intitulado Jornadas.hist, publicado no ano de 2012, cuja autoria é de Maria Luísa Vaz e Silvia Panazzo. A proposta didática do livro é de aprimorar as habilidades dos discentes ao interpretar textos e imagens, explicar os conceitos estudados, comparando e analisando as características de diferentes sociedades. A análise de conteúdo do livro didático foi realizada com base na relação entre o conhecimento histórico acadêmico e o conhecimento histórico escolar. Sendo assim, considerou-se a produção historiográfica acadêmica sobre os papéis sociais das mulheres medievais, procurando compreender em que medida esse conhecimento acadêmico vem sendo utilizado no âmbito escolar. Assim, optou-se por trabalhar com o artigo Direito e deveres das mulheres e dos homens na Idade Média. O testemunho dos Costumes e Foros portugueses. Uma questão de igualdade ou desigualdade?, de autoria de Alice Tavares, publicado na revista Vínculos de História, em 2015. A história não se constitui como uma unidade universal e existem exceções que merecem ser contadas, como em determinados conselhos portugueses. Seria possível pensar os diferentes papéis sociais das mulheres medievais para além da submissão ou mesmo da relação com o ambiente familiar? Pode-se, afinal, tornar a questão mais complexa a ponto de compreender que as mulheres detinham conhecimentos especializados e possuíam autoridade para falar sobre eles? O artigo traz uma discussão no que se refere a gênero de um estudo da área do Direito penal, judiciário, processual, dentro de cidades Portuguesas da baixa Idade Média, provando, a partir da análise de documentos judiciais das respectivas regiões, que as mulheres tinham direitos “equivalentes” aos homens em determinadas situações. O livro de ensino fundamental Jornadas.hist aborda a questão da mulher em uma página, explicitando que as funções da mulher dependiam da sua condição social e de onde habitavam, enfatizando os acontecimentos vivenciados por Joana d´Arc como uma “heroína”. Ao compararmos o artigo com o livro didático, podemos concluir que o tema, apesar de ser abordado, é problematizado de forma vaga, deixando lacunas que permitem ao discente cogitar que o papel feminino restringia-se somente a essas esferas, ou que somente Joana d’Art foi uma heroína feminina da época, negando a importância das demais na constituição social e na relevância histórica. Concluímos que os estudos de gênero se destacam por sua relevância na compreensão da sociedade e sua complexidade e nos pensamentos acerca de preconceitos que permeiam o coletivo. Buscar essa compreensão faz com que percebamos que as diferenças de gênero são históricas. Mesmo que, de lá para cá, direitos significativos tenham sido conquistados pelas mulheres, como o direito ao voto, e que igualdade, ainda que na teoria, esteja assegurada, entendemos que a verdadeira e plena igualdade de gênero ainda é um objetivo distante.


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