A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE TRAVESTI NO CINEMA BRASILEIRO

Sharyel Barbosa Toebe, Ana Julia Vognach, Caroline da Rosa Couto, Betina Hillesheim

Resumo


O presente trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Pesquisa Aplicada em Psicologia I e II, do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul. A partir de três personagens de três filmes brasileiros, Tabu de Madame Satã, Lady Di de Carandiru e Madona de Elvis e Madona, buscou-se compreender as formas pelas quais a constituição da identidade travesti é engendrada na apresentação de filmes de produção brasileira em que há atuação de personagens travestis. Observou-se como a mídia aparece no modo como são produzidas identidades, como os filmes produzem e reproduzem a população travesti, reconhecendo e problematizando a maneira pela qual se estabelecem formas de (in)visibilidade destas identidades e de como tais produções nos perpassam, atravessam e afetam a todos os sujeitos. Para a análise desses três filmes, apoiamo-nos nos campo dos Estudos Culturais, na medida em que estes configuram um campo não homogêneo, servindo como base para a reflexão acerca de questões complexas e diversas. O conceito geral de análise, escolhido a partir e com os filmes, trata da heteronormatividade enquanto um conjunto de práticas normalizadoras, limitadores e constituintes dos sujeitos contemporâneos, logo de nós – autoras – e das travestis de quem falamos. Considera-se que esta pesquisa leva à discussão da violência. Uma violência por vezes berrante, por muitas outras, silenciosa e eficaz: violência normalizadora e limitadora dos corpos e das possibilidades de vida, de sexualidade, de afetos. Violência que não está apenas nos filmes, que está em nós, nas questões: “É ou não é travesti?”, “Como identificar?”, “Mas acho que aquela não é uma travesti mesmo”. A esta violência chamamos heteronormatividade, não pra fazer dela um monstro, mas para constitui-la como uma prática comum, que nos atravessa e nos forma de tal maneira que podemos, hoje, questioná-la. A heteronormatividade que nos torna sujeitos e que assujeita também a Tabu, a Lady Di e a Madona. Conclui-se que na tênue linha estabelecida entre o que é ser homem e o que é ser mulher, as travestis tropeçam, desfilam, borram e circulam definições estáticas e padrões, sem deles sair. A indústria cinematográfica suscita críticas e reflexões, influencia opiniões e princípios, produz formas de ser e estar no mundo. Sendo assim, produz e reproduz a identidade travesti marcada pela pressão da heteronormatividade. Os filmes mostram realidades, mas também criam realidades. Assim, cada pessoa que assiste a um filme é afetada de uma maneira, podendo, com isso, perpetuar estigmas e preconceitos acerca das travestis.


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