A LUTA ANTIMANICOMIAL: POR EVENTOS QUE MOVIMENTEM-SE

Ana Paula Braga Lovatto, Karla Gomes Nunes

Resumo


Este trabalho consiste em uma pesquisa-intervenção, da qual foi embasada nos conceitos que remetem à reforma psiquiátrica, entre eles a cidadania, a luta antimanicomial e o protagonismo. Neste sentido, o trabalho buscou analisar e compreender os movimentos antimanicomiais em Santa Cruz do Sul – RS, através da própria visão dos usuários de saúde mental do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS II. A produção e a análise dos dados orientaram-se pela perspectiva da Análise de Discurso Francesa, e o material para a produção dos dados consistiu em pesquisas quanto as lutas antimanicomiais em Santa Cruz do Sul, quatro Grupos Focais, Observação Participante e Diário de Campo da pesquisadora. Diante disso, foram construídas duas categorias de análise: A primeira como “O (des)conhecimento da ciência: sobre cárceres físicos e mentais”, categoria que através dos discursos que fazem emergir a ciência, esta reduzida à algumas profissões, especialmente a psiquiatria, busca problematizar as questões de poder que atravessam a instituição e as possibilidades de existência dos usuários, confrontando desta forma sobre questões tanto do poder disciplinar quanto do biopoder, descritos por Foucalt. A outra categoria é intitulada como "Movimentos Antimanicomiais sobre a percepção dos usuários”, que busca elucidar o quanto estes movimentos, através das referências bibliográficas, são importantes para o empoderamento dos usuários, bem como, para o fortalecimento da cidadania e do protagonismo destes usuários, podendo desta forma, serem movimentos potencializadores de, em e para a saúde. Por outro lado, nesta parte do trabalho, também aparecem discursos que denunciam os movimentos apenas como eventos, não garantindo uma participação efetiva dos usuários, os colocando como participantes passivos, ou ainda, como usuários com precárias informações que dizem respeito a luta antimanicomial, desfavorecendo assim a cidadania, o protagonismo, o empoderamento, e em si o próprio propósito da luta em saúde mental. Nesta mesma parte do trabalho, os usuários também expõe a necessidade do fortalecimento do vínculo familiar, colocando como essencial que a família também faça parte destes "eventos", não sendo os mesmos destinados apenas aos usuários e trabalhadores de saúde. Por fim, cabe ressaltar, que além da pesquisa possibilitar compreender o quanto a reforma psiquiátrica precisa ser vista como um movimento, e não algo "estático", "dado", a cunho pessoal e acadêmico, este trabalho favoreceu o questionamento a nossa formação, a quem queremos ser e àquilo que podemos nos moldar sendo incluídos em um sistema onde ainda prevalece a psiquiatria e o saber-poder do diagnóstico. Deste modo, sugere-se que nossa atuação clínica-política seja revista e repensada de forma crítica no cotidiano, fomentando para que não construímos o lugar da loucura apenas dentro de serviços, mas também, se não principalmente na rua, desatando nós e formando laços.

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