CONSTRUINDO RELAÇÕES: O VÍNCULO ENTRE CUIDADORES/RESPONSÁVEIS DE CRIANÇAS E TRABALHADORES DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Sharyel Barbosa Toebe, Karine Vanessa Perez

Resumo


A partir da experiência de estágio extracurricular como visitadora no Programa Primeira Infância Melhor, pôde-se acompanhar o desenvolvimento integral das crianças e suas histórias de vida, ouvir relatos de mulheres-mães e do cuidado que dispõem aos seus filhos. Foi-se percebendo que cuidadoras de um mesmo território buscam, para a atenção em saúde de seus filhos, serviços diferentes, por vezes justificando isto pelo modo como são acolhidas. Partindo desses relatos e vivências, foi-se perguntando sobre como se dá esse acolhimento, como ele é construído e pensado em cada serviço. Apesar de ser a mesma política que rege e regulamenta esse cuidado em saúde, ele se singulariza em cada profissional que irá executá-lo, na relação entre quem acolhe e quem é acolhido. Desta experiência e destes questionamentos, construiu-se o Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia, intitulado “Problematizações sobre o acolhimento em saúde na primeira infância”. Por meio deste, buscou-se compreender como os cuidadores/responsáveis pelas crianças percebem o acolhimento na rede de atenção em saúde à primeira infância em um município do Vale do Rio Pardo-RS. Desta forma, realizou-se uma revisão bibliográfica com base em documentos já elaborados sobre acolhimento em saúde neste período de vida. Ainda objetivou-se investigar quais elementos influenciam na construção do vínculo entre os cuidadores/responsáveis e os trabalhadores dos serviços de saúde. O levantamento destas informações foi realizado por meio de 8 entrevistas semiestruturadas. A partir delas, pode-se apontar que a construção do vínculo está diretamente ligada, imbricada com o acolhimento, com a humanização do cuidado no dia a dia e com o entendimento do funcionamento da rede de atenção em saúde, visto que as entrevistadas relatam ter uma boa relação com os profissionais. Entretanto, estas mostram-se, por vezes, muito insatisfeitas quando percebem que eles não fazem o seu trabalho da forma como elas consideram adequada. Outra questão que pode ser considerada na constituição das relações é que o vínculo é uma constante construção, e que, para se estabelecer, é necessário o entrelaçamento das duas partes envolvidas, ele não pode ser construído somente por um lado, é um laço que precisa ser amarrado, um elo que precisa ser fechado em seus dois lados. E esse elo é uma rede de relações que exige constante interação, troca e diálogo para que se (a)efetivem os  processos de produção de saúde (BRASIL, 2010a). As entrevistadas, em geral, consideram o “superatarefamento”, a sobrecarga de trabalho dos profissionais, e mostram-se compreensivas durante as entrevistas, pois citam a importância de elas mesmas terem bom senso e saber quando suas questões podem esperar, para que se resolva algo mais grave. Acredita-se que esse fato possa ser significativo na constituição desse vínculo, pois é entendido pelas mulheres-mães que, por vezes, os profissionais não estão em disposição e não estão tendo as condições de/para fazer o trabalho preconizado. Deste modo, aponta-se que o ato de acolher é fundamental na construção do vínculo, pois percebe-se que eles são estabelecidos e fortalecidos em uma construção diária, a partir da constituição de uma relação de respeito e confiança nos “entres”, nas trocas, nos espaços de produção de cuidado em saúde, nos nós da rede de atenção. E que, essas amarras, não somente auxiliam nos processos de produção de saúde, mas também constituem a saúde e o cuidado em si.

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