FAMÍLIA E EVASÃO ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO

Michele Sabrine Severo, Kathleen da Cunha Spaniol, Dulce Grasel Zacharias

Resumo


Anterior a terapia familiar, o ser humano era visto como algo isolado, se o sujeito tinha algum sintoma apenas ele era o problemático; com a entrada da terapia familiar, começou-se a pensar os sujeitos como sendo resultado de um contexto, a família passou a ser vista como influenciadora do sintoma. Com o surgimento de terapeutas que analisaram a família dos pacientes sintomáticos, percebeu-se que aquele que se apresentava ali já não era mais o estranho, mas uma adaptação necessária devido a constante interação com o contexto familiar (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). Neste trabalho, apresentaremos a família S., que frequentou o Serviço Integrado de Saúde (SIS), da Universidade de Santa Cruz do Sul de agosto de 2017 a junho de 2018, totalizando 14 encontros. O objetivo é analisar o funcionamento da família S. e o processo terapêutico realizado pela equipe da sistêmica, que teve como finalização o abandono da terapia familiar. A metodologia usada é a de estudo de caso, com relatos das informações coletadas e do processo terapêutico dos atendimentos, que foram realizados no segundo semestre de 2017 e no primeiro semestre de 2018, tendo como foco a perspectiva sistêmica. A família S. é composta por S1 (pai, 57 anos), S2 (mãe, 40 anos), S3 (filho de 12 anos) e S4 (filho de 6 anos). Chegaram até a equipe da sistêmica através de outra estagiária do SIS que atendia S1 individualmente. No ano de 2017 como principal queixa a família trouxe a evasão de S3 da escola, não tendo mudado a situação continuaram em atendimento no ano de 2018. Conforme decorriam os atendimentos, percebiam-se outras conflitivas existentes da parte dos pais, como divergências conjugais, com suas famílias de origem e com a criação dos filhos. Crianças muito dependentes e sintomáticas, o paciente identificado circulou durante os encontros. Apesar de todas as conflitivas encontradas o foco dos problemas era sempre apontado no S3 em não querer ir a escola. Ocorreram alguns fatores na vida de S3 que podem ter desencadeado seu medo e desinteresse nos estudos, como ter sido o primeiro a encontrar um amigo que se suicidou, ter medo de lugares fechados e do abandono dos pais, preocupação com certas situações e lugares. Quando conseguimos vaga para psicoterapia individual de S3, a família decidiu que não tinha mais interesse no atendimento familiar, ocorrendo o abandono das sessões de família. Percebeu-se nos atendimentos uma grande dependência de ambos os filhos em relação aos pais, em que as fronteiras se encontravam emaranhadas (difusas); falta de diferenciação do casal de sua família de origem, refletia no comportamento dos filhos; relacionamentos anteriores do casal era mantido como segredo ou não revelados, voltando-se sempre para a evasão escolar do filho. Apresentou-se a falta de papéis definidos da família e limites; transmissão multigeracional em que S3 também apresentava Transtorno do Pânico assim como o pai; uma competição entre irmãos, uma vez que esta família era na realidade composta por 3 filhos vivendo juntos. Em função desta estrutura familiar, S3 apresentava comportamento opositor e dependente. Assim que conseguiu atendimento para S3 individualmente, esta família acaba abandonando a terapia familiar, demonstrando-se que para a família apenas ele causava alguma desordem no sistema.


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