ENTRE NÓS: UMA HISTÓRIA DE ABUSO INTRAFAMILIAR

Eduarda Correa Lasta, Edna Linhares Garcia

Resumo


Para a psicanálise, o que interessa ao analista não se resume ao que o sujeito pode falar de si, ao sentido que dá aos seus atos e desejos, mas também aquilo que lhe escapa e que se apresenta nos tropeços de sua fala, na hiância entre o que diz e o que quis dizer. (JUNIOR; RAMOS, 2010). A situação analítica é comunicacional, ou seja, circulam demandas nem sempre de uma lógica racional, mas que expressam o desejo de serem escutadas e compreendidas. O presente trabalho relata o discurso de uma mãe que passou por atendimento psicoterápico em um Serviço-Escola de uma universidade no interior do Estado do Rio Grande do Sul. O objetivo deste estudo é apresentar discursos que permeiam os casos de incesto. Temas sub-reptícios aos segredos de família, fazendo uma leitura a partir das contribuições psicanalíticas. O delineamento utilizado para a construção desse trabalho foi a escuta psicanalítica. A descrição do caso clínico foi embasada por uma revisão bibliográfica referente aos temas: família, adicção, religião, incesto e desistência do processo terapêutico. Os atendimentos eram um total de 14 sessões de psicoterapia, realizadas uma vez por semana com duração de 50 minutos cada. Os encontros foram supervisionados, assim como a paciente assinou um termo que autoriza a utilização de dados para fins científicos. O estudo possibilitou compreender que o discurso trazido pela paciente durante os atendimentos estava permeado por mitos sociais impregnados em nossa cultura, que generaliza entendimento e que não permitem problematizações, tais como a concepção de que casamentos podem se tornar desgastados, infelizes e violentos. Do mesmo modo, foi possível compreender que esta mulher enquanto submetida a falso “contos de fada”, pagava alto preço em relação a sua saúde física e psicológica. Ressalta-se que a escolha do título “Entre nós: uma história de abuso intrafamiliar” se deve em especial, pela posição que a paciente se colocava durante os atendimentos. Ela expressava que entre eles, ou seja, no seio familiar havia segredos, não ditos, coisas das quais envergonhava a todos e os fazia sofrer, porém, existia nela certa resistência em falar. Embora, apresentando muita resistência, a paciente deixa escapar os segredos que constituem sua história familiar. Por fim, o trabalho buscou contribuir para o desvelamento das formas de opressão as quais têm sido submetidas mulheres em nossa sociedade. Problematizando as concepções de família, religião, casamento e relações abusivas. Foi possível uma acolhida ao desemparo que aquela mãe apresentava. Tais questionamentos, portanto, vêm ao encontro do trabalho da Psicologia que não se restringe ao setting terapêutico, e amplia seus direcionamentos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária a todos, sustentando processos libertários especialmente aqueles que buscam ajuda psicoterápica.

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