"É COMO SE QUALQUER PESSOA PUDESSE FAZER O NOSSO TRABALHO": O (NÃO) RECONHECIMENTO DO TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Daniela Fischer, Karine Vanessa Perez

Resumo


O trabalho é uma atividade muito importante para a construção da nossa identidade. Nas relações, o olhar do outro remete a experiências subjetivas, de modo que isso se traduz em reconhecimento. Com isso, percebemos o quanto o trabalho é determinante no processo saúde-doença, subjetivando o ser humano, especialmente a partir da dinâmica entre prazer e sofrimento. O que irá diferenciar como será essa experiência de um sujeito para o outro é como cada um a significa e a ressignifica, pois ocorre de maneira singular. O fator da visibilidade tem importante contribuição em termos psicossociais, no que se refere ao processo saúde-doença das pessoas e na construção de si. O aspecto relacionado ao reconhecimento é fundamental para o trabalhador, para a transformação do sofrimento em prazer. Dessa maneira, esta pesquisa de Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia teve como objetivo geral compreender de que modo o reconhecimento do trabalho docente na educação infantil interfere na saúde dessas professoras. Como metodologia utilizamos uma adaptação da Psicodinâmica do Trabalho. Foram realizadas oito entrevistas individuais semiestruturadas com professoras de educação infantil da rede pública de ensino de uma  cidade do interior do Rio Grande do Sul. Revelou-se que o reconhecimento acontece por parte das crianças e que as famílias gradativamente estão compreendendo a importância desse trabalho para o desenvolvimento dos filhos. Quando se refere à gestão municipal e à  sociedade em geral, esse fator frequentemente se mostra ausente.  As professoras trazem que a vivência com os alunos é fundamental para elas, que o retorno deles é muito positivo, sendo um fator prazeroso no trabalho. Na cidade em que a pesquisa foi realizada se adotou uma nova modalidade de organização do trabalho em que as docentes são responsáveis pelo aspecto pedagógico por duas ou três turmas de zero a três anos, simultaneamente. O cuidado direto das crianças fica como atribuição dos estagiários e atendentes, o que fragmenta o trabalho e não possibilita a noção do todo. Isso tem provocado sofrimento e desgaste nas trabalhadoras. É importante ressaltar que mesmo com essa situação muitas professoras se uniram para tentar modificar esse contexto que até então estava produzindo sofrimento, bem como para a a busca de melhores condições de trabalho e reivindicação de seus direitos. Podemos perceber que as docentes se sentem muito importantes para o desenvolvimento de seus alunos e que os resultados de seu trabalho aparecem no futuro, geralmente não sendo imediatos. Assim, ser trabalhadora da educação infantil representa algo muito significativo na vida das pesquisadas, para sua identidade e para a transformação do sofrimento em prazer, a partir da dinâmica do reconhecimento.

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