DROGADIÇÃO, PRIVAÇÃO E CONFLITO COM A LEI: PROBLEMATIZAÇÕES

BRUNA LOPES MARTINS, DULCE GRASEL ZACHARIAS, EDNA LINHARES GARCIA

Resumo


Este trabalho objetiva apresentar reflexões acerca da relação estabelecida entre dependência química, delinquência e desenvolvimento emocional do sujeito através da análise de dados da Pesquisa "A realidade do crack em Santa Cruz do Sul", que vem sendo realizada desde 2010 na Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Para isto, apresenta alguns dados, emergentes das entrevistas realizadas, referentes ao envolvimento dos usuários com a polícia em conflito com a lei. A análise destes possibilitou a problematização de discursos produzidos e reproduzidos em nossa sociedade sobre a relação entre drogas e delinquência, bem como apontou para a necessidade de ampliação da percepção acerca dos processos de desenvolvimento emocional de cada sujeito, perpassado por diversos conflitos presentes em seus ambientes psico-familiar e social. Ressalta-se, principalmente, o dado recorrente que associa uso de drogas e a ocupação do lugar de delinquente. O processo de coleta de dados da pesquisa foi realizado por meio de entrevista semiestruturada, que alcançou 100 usuários de crack e 100 familiares de sujeitos usuários de crack, os quais foram contatados por meio de seus vínculos em serviços de saúde (ESFs, CAPS, Hospitais, etc.). Após a coleta de dados realizou-se um primeiro momento de organização dos dados quantitativos, os quais se referiam, principalmente, ao contexto social, econômico e familiar. A alta porcentagem do envolvimento desses sujeitos com a polícia requer uma perspectiva de análise complexa, sob o risco de reforçar a relação simplista entre droga e delinquência. Propõe-se uma análise fundamentada na concepção Winnicotiana, visto que o desenvolvimento emocional desses sujeitos é muitas vezes perpassados por privação familiar e pela falta de suportes continentes responsáveis por condições de existência mais promissoras e saudáveis. Portanto, as problematizações nos favorecem repensar a drogadição e seus respectivos conteúdos pouco explorados e latentes que a sociedade, na busca incessante de salvar os indivíduos desta vivência maléfica, acaba por reproduzir e reforçar diversos pensamentos e estereótipos nada promissores aos sujeitos. Aponta-se a hipótese de que muitos destes sujeitos se tornaram desejantes inconscientes de um afeto falho ao longo de seu desenvolvimentos e que o fator delinquência remeteria a uma demanda inconsciente de cuidado, amor e de continente para as suas necessidades. Na perspectiva da teoria psicanalítica, principalmente a Winnicotiana, é possível ressaltar a importância da afetividade durante o período de desenvolvimento, bem como nos processos de estabelecimento de comportamentos delinquentes.


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