A ESCRAVIDÃO NAS PÁGINAS DO JORNAL "A REFORMA" ENTRE 1870 E 1880: AMBIGUIDADES E CONTRADIÇÕES E A CONSOLIDAÇÃO DO CARÁTER ABOLICIONISTA.

EDUARDO FINGER, OLGARIO PAULO VOGT

Resumo


O presente trabalho está sendo desenvolvido como desdobramento das atividades de iniciação científica no projeto "História do Pensamento Econômico e Social do Rio Grande do Sul". A escravidão no Brasil ocorreu desde meados do século XVI e estendeu-se por todo o período colonial durando até o final do Império. O sistema escravocrata começou a perder força por vários motivos, dentre eles se destacando os decorrentes da Revolução Industrial e da pressão diplomática exercida pela Grã-Bretanha, que, então, era o principal parceiro comercial do Brasil. A crescente industrialização necessitava de uma expansão do mercado consumidor e a vislumbrava na troca da mão-de-obra escrava pela mão-de-obra livre. A abolição no Brasil foi realizada de forma lenta e gradual, devido a grande resistência das elites escravocratas e de seus representantes políticos ao direito de propriedade. Este foi o motivo principal para que o processo de emancipação ocorresse em etapas, iniciando com a lei de supressão do tráfico negreiro, em 1850, passando pelas leis do Ventre Livre, de 1881, e dos Sexagenários, de 1885, até chegar à promulgação da lei Áurea, ocorrida em 13 de maio de 1888. Ao levantarmos dados no jornal "A Reforma", de Porto Alegre, órgão oficial do Partido Liberal da Província, nos deparamos com um numero expressivo de noticias sobre o trabalho cativo. O objetivo da comunicação é analisar de que forma a escravidão é representada através das páginas do jornal A Reforma e o recorte temporal utilizado são as décadas de 1870 e 1880. Trabalhamos somente com os exemplares do periódico existentes no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, fazendo a análise do conteúdo atinente à escravidão. Pudemos constatar mudanças discursivas significativas nas representações sobre a escravidão ao longo do período estudado. No início da década de 1870 são frequentes os anúncios de compra, venda, aluguel e de fuga de escravos e ainda poucas referências à abolição. Já na década de 1880, aparece com ênfase nas páginas do jornal a defesa da abolição. Isso se Observa claramente através dos editoriais, da reprodução dos discursos no Senado de Gaspar Silveira Martins, líder inconteste do partido, e nos anúncios sobre as atividades dos centros abolicionistas. Concluímos que, através das páginas do jornal, o Partido Liberal inicialmente não tinha uma posição clara e definida a respeito da abolição da escravidão, prevalecendo sobre o tema posições ambíguas e contraditórias. Na medida em que aumenta o clamor popular pelo fim da escravidão, o jornal passa a veicular uma postura nitidamente abolicionista.


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