SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO PARA A ATENÇÃO INTEGRAL AO USUÁRIO DE DROGAS

BRUNA ROCHA DE ARAUJO, ALÍSSIA GRESSLER DORNELLES, EMANUELI PALUDO, GIORGIA REIS SALDANHA, EDNA LINHARES GARCIA

Resumo


Determinar um espaço geográfico para organização dos serviços de saúde é uma tentativa do governo para melhorar a qualidade da atenção à saúde, a facilidade de acesso e estabelecer maior proximidade com as necessidades da população em conformidade com as especificidades de cada região. No entanto, quando o assunto é a problemática envolvendo as drogas e seus usuários, percebe-se um elevado número de internações de pessoas usuárias de drogas, num movimento de afastamento do sujeito de seus vínculos familiares e sociais. Este trabalho propõe uma reflexão sobre as formas de tratamento de usuários de drogas a partir de dados obtidos em entrevistas semiestruturadas (quantitativa e qualitativa) decorrentes da pesquisa 223A Realidade do Crack em Santa Cruz do Sul224, da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. A pesquisa contou com a participação de 100 usuários de crack e de 100 familiares de usuários, contatados por vínculos com serviços de saúde e espaços comunitários. Neste ano, ocorrem análises qualitativas dos dados com a metodologia de análise dos sentidos produzidos nos discursos. Uma das questões aborda se o usuário já fez algum tratamento e se sim, qual. Nas duas categorias de participação, a internação foi a forma de tratamento mais citada, sendo que entre os usuários, 90% já fez algum tipo de tratamento e apenas 6% citou acompanhamento em Centros de Atendimento Psicossocial (CAPS II e CAPSad), o que não significa que não ocorra, mas que não foi mencionado pela maioria como uma forma de cuidado. Observa-se, a partir dos dados, um movimento hegemônico que valoriza o enclausuramento em detrimento de práticas de redução de danos. Ou seja, há uma força que preza pelo afastamento do usuário da sua família e convívio social, o que remete à necessidade de proteção da ordem social, conforme a lógica higienista. Entretanto, não há registros de populações em que não houve alguma substância tratada como ilícita. Pensando nos processos já vivenciados pela saúde em sua história, pode-se considerar a repressão e a criminalização como uma solução condenada ao fracasso, como, por exemplo, já foram os modelos de manicômios utilizados nos primórdios da saúde mental. Neste sentido, o Ministério da Saúde, em 2003, contemplou a proposta de que o consumo de drogas não significasse mais uma problemática médica, psiquiátrica ou jurídica, mas que incorporasse um problema de saúde pública. O governo vem investindo na Atenção Básica em Saúde como força emergente para potencializar o cuidado territorial do usuário de drogas, sem repudiar a internação, mas somando esforços para que ela não se torne a principal forma de tratamento, considerando-a apenas em casos em que haja necessidade diante de uma situação real de risco à própria vida ou de outros. As práticas de redução de danos são exemplos de força contra a hegemonia da internação, numa abordagem ao usuário de drogas através de mecanismos para produção de cuidado territorial, respeito aos direitos humanos e o tempo que cada um precisa para enfrentar a drogadição. Neste sentido, os princípios da Reforma Psiquiátrica que regem a Política Nacional de Saúde Mental devem embasar efetivamente as políticas sobre drogas, prezando o respeito à liberdade, autonomia e cidadania, a fim de provocar problematizações dos discursos e práticas que objetivam apenas a abstinência, sustentados pela lógica da individualização e culpabilização.


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