INCLUSÃO E TERRITÓRIO: SOBRE O PERTENCER EM SAÚDE

AMANDA CAPPELLARI, CAROLINE DA ROSA COUTO, BETINA HILLESHEIM

Resumo


O presente trabalho tem por objetivo apresentar as discussões finais que compuseram a pesquisa "A saÚde e a lógica da inclusão: entre o território e os nômades", a qual problematizou as relações estabelecidas entre equipes de saÚde e grupos sociais denominados nômades, os quais mediante o deslocamento e o movimento constantes, buscam formas de resistência e sobrevivência. Destacamos, para tanto, a noção de território, enquanto um importante marcador e organizador das políticas pÚblicas estreitamente relacionado à inclusão. A produção de dados foi realizada em duas Estratégias de SaÚde da Família (ESF) do município de Santa Cruz do Sul, interior do Rio Grande do Sul, mediante observações participantes nesses serviços, entre os anos de 2013 e 2014, acompanhadas pela produção coletiva de um diário de campo. A escolha pelas ESFs se justifica na medida em que sua proposta é baseada na territorialidade para que, a partir de espacialidades específicas, sejam pensadas ações em saÚde específicas. Podemos pensar que a relação entre políticas pÚblicas de saÚde e espaço se dá, no Brasil, a partir do processo de reorientação do modelo assistencial da saÚde que ocorre com a criação do Sistema Único de SaÚde (SUS), nesse contexto o conceito de território passa a ser estruturante da atenção primária em saÚde. Conforme expresso na Constituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica da SaÚde 8.080, o SUS associa a perspectiva territorial, objetivando alcançar os princípios de universalidade e integralidade, atenção às demandas locais, participação social e uso adequado dos recursos. A partir das contribuições do geógrafo Milton Santos, pensamos em um território-vivo que só se define em uso e não distingue fixos e fluxos. Nesse sentido, um território que produz ações em saÚde, ao passo em que é ele mesmo produzido nessas ações. No esquadrinhamento das áreas e microáreas de abrangência das ESFs, sob o imperativo de a todos chamar, a todos chegar, a todos incluir; observamos como o território passa a ser ou não ser, meu ou teu. Nessa lógica, os nômades confundem os serviços e, muitas vezes, frustram as equipes de saÚde, as quais naturalizam e burocratizam a ideia de vinculação: "cadastra...descadastra; ele quer ser atendido aqui, mas sem o cadastro, nada feito; ela não é minha, mesmo assim eu tento acompanhar!". Na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), os territórios são tidos como definidos e dinâmicos; e é entre os residentes, os moradores de rua e aqueles que não se enquadram - uma vez que seus movimentos não são previsíveis, tais como os nômades - que o território se produz e produz quem pertence e quem não pertence, no agenciamento e gerenciamento da multiplicidade. Assim, percebemos que incluir, nesses espaços, diz da delimitação de territórios não apenas com fins organizativos, de divisões estáticas, mas ainda da constituição de territórios de pertencimento, a partir do investimento da relação dos usuários com os serviços de saÚde.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.