O CONTEXTO DE TRABALHO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE: A RELAÇÃO DO CONTEÚDO DO TRABALHO COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS

Ariane dos Santos Hoppe, Amanda Côrrea dos Santos, Leni Dias Weigelt, Luciane Maria Schmidt Alves, Suzane Beatriz Frantz Krug

Resumo


As relações existentes entre o contexto de trabalho e a saúde do trabalhador vêm se tornando objetos de intensos estudos, haja vista que a forma como o trabalho está organizado é, atualmente, um dos principais causadores de sobrecarga para o trabalhador, seja ela física ou psíquica. Nessa perspectiva, ao direcionar o olhar para a atenção básica em saúde, focamos no Agente Comunitário de Saúde (ACS), um profissional considerado pouco capacitado para a área e, por muitas vezes, desviado de suas funções. A partir disso, objetivou-se investigar a associação do perfil sociodemográfico com a organização, condições e relações socioprofissionais de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde. Caracteriza-se como um estudo exploratório-descritivo do tipo quantitativo, recorte da pesquisa "Sofrimento no trabalho de Agentes Comunitários de Saúde: um estudo nos municípios da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde - RS", desenvolvida pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde (GEPS) da Universidade de Santa Cruz do Sul, contemplada no edital FAPERGS/MS/CNPq/SESRS n.002/2013 e Programa Pesquisa para o SUS - PPSUS - 2013/2015, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNISC sob protocolo 713.475. Os sujeitos foram 251 ACS de 34 Estratégias de Saúde da Família (ESF) e cinco Estratégias de Agentes Comunitários de Saúde (EACS) dos 13 municípios da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde - RS. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados um formulário validado, "Inventário de Trabalho e Risco de Adoecimento" (ITRA), e um questionário sociodemográfico. Para este estudo, utilizou-se a primeira dimensão do ITRA denominada "Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho" que avalia o conteúdo do trabalho, envolvendo organização, relações socioprofissionais e condições de trabalho. Os dados foram organizados através do software SPSS 20.0 e, a partir disso, foram analisados os valores de média de cada variável. O nível de significância adotado foi de p=0,05. Os ACS eram predominantemente do sexo feminino (92,8%), com idade entre 31 a 40 anos (37,5%) e casados (48,6%). Sobre a escolaridade, 54,2% têm ensino médio completo e 13,2% estão cursando o ensino superior. Grande parte está vinculada a ESFs (59,8%) e 40,2% a EACS, com predomínio de atuação em área urbana (50,2%), seguido de área rural (43,8%) e em ambas as áreas (5,25%). Os resultados expressam que o fator "Organização do Trabalho" obteve relação significativa com a idade (p = 0,001), o município que o ACS pertence (p = 0,000), o tipo de estratégia em que o mesmo está inserido - considerando ESF ou EACS - (p =0,001) e a área em que atua - urbana ou rural, (p = 0,000). No fator "Relações Socioprofissionais", houve relação significativa com o município que o profissional pertence (p = 0,000) e com o tipo de estratégia que integra (p = 0,015). No terceiro fator denominado "Condições de Trabalho", identificou-se relação significativa com a escolaridade do ACS (p = 0,013), o município que pertence (p = 0,011) e com a área em que atua (p = 0,028). A variável "município" obteve associação significativa com os três fatores da escala, o que nos leva a refletir a existência de possíveis dificuldades vivenciadas por esses profissionais relacionadas ao apoio oferecido pela gestão às demandas encontradas no município, incluindo recursos materiais e profissionais. Portanto, evidencia-se existência de associação do perfil sociodemográfico com a organização, condições e relações socioprofissionais de trabalho dos ACS.

 

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