TENDÊNCIAS DO ROMANCE CONTEMPORÂNEO EM LÍNGUA PORTUGUESA: O RETORNO DO AUTOR E DO ESCRITOR

Helena Jungblut, Ádria Graziele Pinto, Nicole Petry Rieger, Ana Cláudia Munari Domingos

Resumo


Este resumo vincula-se ao projeto Vozes da cultura contemporânea 2: o narrador na cultura da conexão, coordenado pela Profª Dr. Ana Cláudia Munari, cujo objetivo é refletir sobre mentalidades e tendências da ficção contemporânea, centralizando sua atenção no narrador. Ao concentrar-se no sujeito moderno e no meio que o circunda, o trabalho abrange três diferentes campos de atuação: a sociologia, representada através de reflexões sobre a cultura contemporânea; a comunicação, quando discorre a respeito da interação entre mídias e a escrita de ficção; e a teoria da literatura, ao observar a figuração do narrador e sua produção narrativa atual. Nosso princípio norteador é a tendência da escrita em primeira pessoa na literatura contemporânea brasileira, ancorada na influência de novas tecnologias de comunicação em práticas culturais. Investigamos o agenciamento da convergência de linguagens sobre os fenômenos literários, na esteira do que já o foram para a literatura o cinema e a televisão (GALVÃO, 2016). Nossa metodologia organiza-se, ao longo do processo, em torno de três momentos distintos: 1) formação do corpus: seleção de narrativas em língua portuguesa, vencedoras dos prêmios Jabuti e Oceanos, a partir dos anos de 1994 e 2003, respectivamente; 2) leitura, análise, interpretação e identificação dos elementos narrativos e da escritura dessas obras literárias a partir de estudos teóricos; 3) elaboração de um quadro comparativo, com a finalidade de aproximar ficções que apresentem semelhanças entre si, como possíveis tendências. O repertório desta pesquisa é constituído, no momento, por 80 obras premiadas, das quais 21 já foram lidas, interpretadas e integradas ao quadro comparativo - seccionado em duas categorias: a hipermídia e a influência que ela exerce na composição literária; e as tendências da literatura contemporânea, como "modos de dizer". Na análise dos narradores, destacam-se, pela presença constante nas produções analisadas, a escrita em primeira pessoa, a visibilidade dos processos de escritura (FRIEDMAN, 2002; FERNANDES, 1996; SANTIAGO, 2002.) e a presença de elementos autobiográficos em narrativas que inovam na forma do dizer. A partir da consciência de que os modos de agir refletem os modos de pensar, busca-se a compreensão do narrador no contexto sociocultural contemporâneo. Acredita-se que modalidades típicas da cultura digital - por exemplo, a escrita em primeira pessoa em blogs, redes sociais, etc, e outras formas de comunicação que permitem o debate e o compartilhamento de conteúdos produzidos a partir de um "eu" - tem agido sobre as formas literárias contemporâneas, caso do romance, gênero que se mostrou empático a novas mentalidades na escrita. O ciberespaço "emoldura" pequenos universos, não apenas de um sujeito como seu protagonista, mas a partir de uma percepção particular do mundo - ou seja, criam-se ficções. Entre as escritas de si, a autoficcção surge pela aparição de um autor, que busca compreender seu espaço-tempo pela escritura e revela-se no texto por meio de diferentes técnicas, seja pela metaficção, pelo viés do seu protagonismo como narrador-personagem, ou pela inserção de biografemas, ao relacionar referentes factuais à história contada (KLINGER, 2007). Por fim, este trabalho busca enfatizar a percepção de que mentalidades e práticas sociais criam tendências, e que, na estética literária, sua convergência resulta em formas de enxergar e expressar a realidade do sujeito frente a si e aos outros.

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