INCLUSÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO JORNAL ZERO HORA

Caroline da Rosa Couto, Amanda Cappellari, Betina Hillesheim

Resumo


O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de apresentar as discussões sobre a relação entre inclusão e políticas públicas que vêm sendo realizadas na pesquisa Inclusão e mídia: uma análise do jornal Zero Hora, na qual se investigam os modos pelos quais se constitui a discursividade sobre inclusão na mídia impressa. Para tanto, utilizam-se teorizações provenientes dos estudos pós-estruturalistas, especialmente do filósofo Michel Foucault. Tomando como materialidade de análise o jornal Zero Hora, um veículo de circulação diária e com expressivo público leitor na região sul do Brasil, os dados vêm sendo produzidos desde março do ano de 2015. Através da leitura dos exemplares e mapeamento de reportagens, artigos, seções e colunas que versam sobre a temática, destaca-se que, embora a produção de dados não tenha terminado, o recorte aqui apresentado refere-se ao período de abril a dezembro de 2015. Parte-se da premissa de que a mídia se constitui como um importante espaço de reprodução, produção e multiplicação de discursos, sendo a mesma compreendida como um dispositivo pedagógico na construção de subjetividades, mediante formas de saber e poder que instituem modos de ser, através de discursividades historicamente construídas.  No caso das políticas públicas, tal como aparecem no jornal, observa-se como o imperativo da inclusão as ordena e sustenta, na medida em que incluir é fundamental. As reportagens foram divididas em quatro eixos, nos quais: 37 referiam-se às políticas públicas de Educação, 24 às políticas públicas de Saúde, 22 à Segurança Pública e 17 faziam alusão à política de Assistência Social, num total de 100 recortes. Através da organização desses eixos - Educação, Saúde, Segurança e Assistência Social - pode-se observar que a inclusão aparece tanto como motivo, quanto como defesa para a criação e manutenção das políticas públicas. Nesse sentido, o maior número de recortes estar relacionado à Educação é significativo, uma vez que esta é revestida, conforme a análise realizada, por nuances de um espaço de instrução, esquadrinhamento e controle dos sujeitos, mais precisamente, de parcelas específicas da população, como no caso daqueles considerados grupos de risco.  Percebe-se que, pelo viés da inclusão, as políticas públicas assumem o caráter de gerenciamento dos riscos de/em uma população. Das diferentes formas que tomam a inclusão nas edições da Zero Hora, a ideia de todos é a mais utilizada, fazendo das políticas públicas uma espécie de instância reguladora daquilo que é posto como condição humana: incluir.  Incluir, tolerar, garantir o ingresso, o acesso e a integração, chamando o Estado como responsável para a instituição e gerenciamento desses atos, mas com a participação de toda a sociedade. Incluir é tido como inquestionável, na medida em que é pela inclusão que se torna possível conhecer, analisar e monitorar a população. Para além de definições de bom ou ruim, entendendo que tais parâmetros são construções datáveis e fugazes, a produção de dados, ainda parcial, dessa pesquisa, aponta para as formas pelas quais nos tornamos sujeitos da inclusão, indicando como a mídia, através de prescrições que constituem, mas também atravessam e transformam as políticas públicas, tem um importante papel na construção discursiva da inclusão, operando sobre as formas pelas quais nos tornamos o que somos.


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