A LITERATURA IMITA O TEATRO - E SHAKESPEARE - EM O MISTÉRIO DO LEÃO RAMPANTE

Adria Graziele Pinto, Ana Claudia Munari Domingos

Resumo


Este resumo vincula-se ao projeto Vozes da cultura contemporânea 2: o narrador na cultura da conexão, coordenado pela Profª Drª. Ana Cláudia Munari, cujo objetivo é refletir sobre mentalidades e tendências da ficção contemporânea, centralizando sua atenção no narrador. Ao concentrar-se no sujeito moderno e no meio que o circunda, o trabalho abrange três diferentes campos de atuação: a sociologia, representada através de reflexões sobre a cultura contemporânea; a comunicação, quando discorre a respeito da interação entre mídias e a escrita de ficção; e, por fim, a teoria da literatura, ao observar a figuração do narrador e sua produção narrativa atual. Nosso princípio norteador é a tendência da escrita em primeira pessoa na literatura contemporânea brasileira, ancorada na influência de novas tecnologias de comunicação em práticas culturais. Investigamos o agenciamento da convergência de linguagens sobre os fenômenos literários, na esteira do que já o foram para a literatura o cinema e a televisão (GALVÃO, 2016). Fazem parte do corpus da pesquisa obras vencedoras dos prêmios Jabuti e Oceanos, a partir dos anos de 1994 e 2003, respectivamente, contabilizando, no momento, 80 títulos. Entre as composições premiadas, encontra-se o livro O mistério do Leão Rampante (1995), de Rodrigo Lacerda, que apresenta um enredo e uma forma que imitam as comédias elisabetanas, repletos de referências a Shakespeare, sua obra e seu teatro. O narrador em primeira pessoa exerce um protagonismo digno de um dramaturgo ao atribuir à narração um caráter de performance dramática. O recurso da performance, esta vinculada diretamente às artes plásticas, cênicas e ao teatro, tem sido uma das formas de instauração do narrador nos processos criativos que envolvem a linguagem literária. Em um contexto genérico, perfomance implica no uso do corpo, ou da voz, para disseminar a poética da palavra (ZUMTHOR, 2014). O que propomos neste estudo é a análise dessa disseminação da performatividade na escritura literária que redimensiona o ato de narrar, bem como da figura do narrador que por ela se inscreve e passa a utilizar artifícios de outras linguagens artísticas para construir uma ordem narratológica verossímil, provocando crença no leitor. Na história de Lacerda, a encenação é criada através das palavras de Valfredo Margarelon, um narrador em primeira pessoa que insiste em resgatar a imagem da prima Maria Margarelon, que teve sua honra questionada ao ser difamada por Guilherme Shakespeare e Ricardo Burbage. Para contar a fábula de uma maneira que cative o "espectador", e o faça concordar com ele, Valfredo seleciona alguns fatos específicos que depõem a seu favor, além de expor suas próprias opiniões e julgamentos, caracterizando-se pela onisciência seletiva (FRIEDMAN, 2002). Além disso, há presença de um dramaturgo, que compõe as cenas e figura as personagens, também através da imitação da forma - fontes, linguagem, ilustração - de formas antigas da literatura, compondo um "cenário" que recria o ambiente elisabetano.


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