CÍNTIA MOSCOVICH: OS LIMITES ENTRE REALIDADE E FICÇÃO

Laura Silveira Aguiar, Eunice Terezinha Piazza Gai

Resumo


Este estudo vincula-se ao projeto de pesquisa "Os estudos acadêmicos de literatura: pressupostos teóricos e aplicabilidades", coordenado pela Profª Drª Eunice Terezinha Piazza Gai, que considera a realização de observações acerca de uma obra a partir de uma concepção hermenêutica, propondo reflexões através da investigação teórica do ser. São utilizadas as percepções propostas por teóricos como Bosi, acerca da interpretação de obras literárias, com o objetivo de estudar a narrativa da obra Por que sou gorda, mamãe?, de Cíntia Moscovich. Para Alfredo Bosi, não há grande texto artístico que não tenha sido gerado no interior de uma dialética de lembrança pura e memória social; de fantasia criadora e visão ideológica da História; de percepção singular das coisas e cadências estilísticas herdadas no trato com pessoas e livros. Neste trabalho, busca-se compreender a elaboração do romance, as relações familiares entre as personagens e suas respectivas trajetórias, a implicação dessas na vida da protagonista e a relação entre personagem e escritora. Cíntia Moscovich, nascida em Porto Alegre em 15 de março de 1958, é escritora, jornalista e mestre em Teoria Literária; teve sua primeira obra publicada em 1996. Conquistou, dentre vários outros prêmios, o primeiro lugar no Concurso de Contos Guimarães Rosa, instituído pelo Departamento de Línguas Ibéricas da Radio France Internationale. Sua narrativa descreve o cotidiano com naturalidade, fazendo constante referência à cultura judaica, à ingenuidade da infância e às relações familiares. No livro Por que sou gorda, mamãe? a autora conta a história de uma escritora que engordou vinte e dois quilos em quatro anos. A personagem decide emagrecer enquanto escreve sobre isso, contando sobre suas experiências com dietas, traumas de infância e relações familiares. O texto é direcionado à mãe da personagem, como uma carta. Nele, Cíntia mescla sua própria realidade e ficção, e afirma, ainda no prólogo: "Usar-me como matéria de ficção: aí está a única forma de saber o que foi, porque preciso saber o que foi para um novo começo". Ao longo da narrativa, percebe-se que a personagem foi marcada por muitos sofrimentos, assim como todas as mulheres de sua família. As bisavós trazem a marca da guerra. Vovó Magra, a marca da fome. Vovó Gorda, apesar de não ter sofrido na infância, teve de enterrar seu único filho homem. Mamãe cresceu sem amor materno, perdeu o marido e os bens materiais, carregando transtornos psicológicos que resultaram em um péssimo relacionamento com a filha. A narradora, por fim, carrega toda a carga emocional gerada por essas mulheres, é vítima da repulsa entre a mãe e a avó, herda a obesidade da avó paterna e a fome da avó materna, além de ter perdido o pai e passado por uma infância muito difícil. Ao compreender o sofrimento como uma sina, a narradora resolve quebrar a corrente que havia se formado nunca tendo filhos. Ao fim de cada capítulo, após falar sobre a família, conta um pouco sobre a sua dieta e o quão difícil é ter de mudar seus hábitos, mas também aponta os benefícios de uma vida saudável. Por fim, diz saber a resposta à pergunta que dá título ao livro, perguntando à mãe, de forma irônica, se ela compreendeu.


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