A COMPANHIA DE FUMOS SANTA CRUZ E SUA RELEVÂNCIA NA HISTÓRIA INDUSTRIAL DA CIDADE

Jose Vitor Thomas, Dóris Maria Machado de Bittencourt

Resumo


A presença e o desenvolvimento da fumicultura em Santa Cruz do Sul tem como protagonista o imigrante alemão que, com o posterior acúmulo de capital, fomenta os processos de industrialização. Posteriormente, a implantação das indústrias fumageiras possibilitou a ascensão de uma emergente burguesia local a partir da Primeira Guerra Mundial. Visando uma melhor compreensão dos resultados desses processos, o presente trabalho tem como objetivo estudar o papel da elite empresarial santacruzense na transformação do capital em exemplares representativos do patrimônio arquitetônico industrial, especificamente, no caso da Companhia de Fumos Santa Cruz. Assim, reconstitui-se a memória da empresa desde sua origem durante o período da República Velha (1889 – 1930) até sua consolidação no mercado fumageiro, ressaltando as relações interfamiliares que levaram à sua fundação, à necessidade de espaços organizados, que resultaram em um conjunto arquitetônico singular e o estilo característico adotado. Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa “A Arquitetura Industrial na República Velha: o Caso de Santa Cruz do Sul”e metodologicamente, desenvolve-se através de análises em fontes primárias, fotografias e documentos históricos do Centro de Documentação da Universidade de Santa Cruz do Sul (CEDOC), além de manuscritos, livros, jornais e periódicos. Devido à influência ainda ecoante da Companhia de Fumos Santa Cruz, realizaram-se entrevistas para compreender a sua influência no cotidiano de descendentes dessa elite empresarial. Registrada em 21 de janeiro de 1919, a Companhia representa a união do grupo privilegiado em busca da superação das limitações do mercado, mantendo assim a competitividade do comércio local frente a investimentos estrangeiros no município. Em 1923, devido ao crescimento da empresa, deu-se início à construção de uma nova sede: um conjunto de prédios, que adota um caráter racionalista, embora mantenha resquícios da arquitetura acadêmica. O conjunto foi edificado à Rua Borges de Medeiros. Após a reforma, apresenta novas linhas, empregando o estilo arquitetônico "Neue Sachlichkeit", ou Nova Objetividade, utilizado na arquitetura utilitária. Esse estilo arquitetônico era utilizado nesse período pelos arquitetos na Alemanha, chegando a Santa Cruz do Sul com a vinda dos imigrantes. Tinha por objetivo a racionalização expressiva das formas arquitetônicas, fazendo restrição ao uso da arte decorativa nas edificações e ditando que o uso de decoração deveria ter razão objetiva para seu emprego. Caracterizava-se pelo funcionalismo e simplificação formal. Finalmente, o conjunto fabril da Companhia de Fumos Santa Cruz foi uma das obras arquitetônicas de relevância histórica mais característicos e marcantes da cidade. Consolidado como herança e reflexo de uma próspera época, foi também responsável pela definição e consolidação da identidade econômica fumageira local no cenário mundial. 


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