O DISCURSO DOS CUIDADORES SOBRE A MEDICALIZAÇÃO DA INFÂNCIA

Caroline Forati Mendes, Jerto Cardoso da Silva

Resumo


O presente estudo visa indagar a relação entre a medicalização e o ato de cuidar que é exercido por cuidadores de crianças e adolescentes atendidos em serviços de saúde mental. Desse modo, busca perceber as produções de sentido sobre o cuidado de saúde no que se refere à medicalização da infância a partir da perspectiva desses cuidadores (profissionais de saúde, pais e responsáveis). Visamos compreender qual foi o discurso produzido pelos cuidadores durante o período em que a criança ou adolescente foi medicado, quais os significados que se repetem ou se transformam e quais os acontecimentos produzidos nesse momento. Este trabalho, ao analisar a construção de sentidos, seu histórico e a dimensão do político nas representações dos cuidadores, tenta apontar a memória discursiva como constitutiva das condições de produção nas práticas de cuidado em saúde mental. Dessa forma, foi utilizada a Análise do Discurso para compreensão da produção simbólica desses sujeitos, uma vez que tal perspectiva nos possibilita olhar para os depoimentos dos cuidadores não apenas como peças linguísticas, mas também em relação com a historicidade, com a ideologia e com o inconsciente, para, enfim, chegarmos às produções de sentido sobre o cuidar. Realizamos a pesquisa através de entrevistas semiestruturadas com os cuidadores de crianças medicalizadas. Apresentaremos a seguir a análise de um desses cuidadores: os profissionais de saúde de alguns serviços de saúde mental do Vale do Rio Pardo, responsáveis pelos cuidados de crianças e adolescentes medicados com psicofármacos. Foram entrevistados os cuidadores que se dispuserem a participar da pesquisa, dentre eles, assistentes sociais, enfermeiros, médicos e psicólogos. Para tais profissionais, a medicalização de crianças e adolescentes está associada ao desempoderamento dos pais frente as dificuldades de seus filhos. Isso também se observa, na dificuldade que alguns pais têm de assumirem o cuidado de seus filhos, apostando unicamente na medicação. Observamos assim, uma sujeição dos pais aos ditames da área biomédica e as normalizações da vida. Nas falas dos profissionais, notamos esse poder normatizador e medicamentoso, influenciando a relação pais-filhos. Ou seja, as dificuldades de vida dessas famílias são atravessadas pelo discurso biomédico hegemônico produzido pelos profissionais.de saúde. Além disso, a medicalização é apontada por estes, como estando enlaçada ao complexo médico industrial, o que ratifica a iatrogênese da educação e da cultura. Sabemos que a medicalização da vida é complexa e exercida por vários atores, profissionais de saúde, pais, educadores, que ativam e são ativados por um processo crescente de medicalização da sociedade brasileira. Sendo assim, este trabalho visa repensar a lógica medicalizante e produzir novos sentidos.

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