ESTEREÓTIPOS RACIAIS NA IMPRENSA BRASILEIRA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

Jaqueline Cezar Tavares Freire, Iasmin Alnoch, Gabriel Prade Dias, Mozart Linhares da Silva

Resumo


Este trabalho é resultado dos estudos produzidos no projeto de pesquisa "Educação, Biopolítica e produção de subjetividades (não) raciais no Brasil". Assim, a pesquisa apresentada é um recorte temático desse projeto maior e tem por objetivo analisar como a raça enquanto marcadora dos sujeitos sociais, sobretudo negros e mestiços, aparece na imprensa no contexto da primeira metade do século XX, mais precisamente nas revistas Tico-Tico e Cruzeiro. Nesse sentindo, buscando compreender as formas discursivas que contribuíram na constituição das subjetividades dos sujeitos negros naquele contexto considerando as problematizações sobre racismo, não racismo e miscigenação. Utilizou-se como ferramentas reflexivas e teórico-metodológicas alguns conceitos do filósofo e historiador Michel Foucault, como saber-poder e governamentalidade, para refletir sobre como as tecnologias biopolíticas de governo atuam como dispositivos nos processos de subjetivação, ou seja, na constituição dos sujeitos sociais a partir da proliferação de discursos que os atravessam. A governamentalidade biopolítica como uma tecnologia de governo que lança mão dos saberes e poderes para agir no corpo social, intervém na população através de dispositivos de segurança que atuam na condução das condutas, ou seja, produzem processos de subjetivação dos sujeitos sociais. Ao tomar a população, ou melhor, o corpo-espécie da população, como alvo do poder, a governamentalidade a constitui como um corpus a partir do qual institui regularidades e previsibilidades que atuam na normalização. Governar a população é constituí-la, e entre os elementos fundamentais na constituição da população está a raça. Ao tomarmos os estereótipos raciais presentes na imprensa da primeira metade do século XX, dispomos de algumas dessas estratégias de produção de sentido que os estereótipos raciais produzem na constituição dos sujeitos, portanto, da forma como a população passa a perceber-se. No caso do Brasil, durante a primeira metade do século XX (contexto pós-abolição) passou-se a assumir o governamento de sua população a partir de estratégias fundadas nos novos regimes de verdade sobre a raça que desde o século XIX vinham sendo produzidos. Esse é o caso do entendimento da raça como estruturante na caracterização de um povo, de uma nação. A eugenia se institui nesse contexto de construção do Estado-nação justamente como a ciência da raça, da espécie, e sua importância no início do século XX consiste justamente em organizar e dar sentido a certa narrativa sobre a população. A imprensa desse período contribuíra para a construção dessas narrativas produzindo relações entre estereótipos raciais e condutas morais. Esse fenômeno fica evidente quando se buscou analisar como são significados termos como negrinho(a), mulato(a), negro(a), preto(a), mestiço(a) e malandro. Portanto, como resultado dessa pesquisa, pode-se concluir que a construção dos estigmas raciais, das significações do ser negro ou mestiço na sociedade da primeira metade do século XX nos mostra as bases a partir das quais se estruturou grande parte do discurso racial contemporâneo.

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