ADOLESCÊNCIA E OS SENTIDOS PRODUZIDOS ACERCA DA DROGADIÇÃO

Rayssa Madalena Feldmann, Marcia de Bastos Braatz, Tais Morgana dos Santos, Natália Sulzbach, Carina Ferreira dos Santos, Edna Linhares Garcia

Resumo


Mary Jane Spink propõe que a produção de sentidos repousa na dinâmica dos encontros, marcados por diferentes linguagens, repertórios, conteúdos e contextos. Nessa direção, a pesquisa Narrativas de adolescentes sobre drogas e os serviços de saúde mental CAPSIA e CAPSAD: intersecções possíveis no contexto de Santa Cruz do Sul, da qual deriva esta escrita, estuda a temática da drogadição na adolescência como uma problemática multifacetada, que se constitui nas inúmeras relações que o sujeito estabelece consigo, com o outro e com o mundo. A pesquisa objetiva compreender o espaço que a droga ocupa na constituição subjetiva dos adolescentes, visando subsídios para a elaboração e implementação de ações de prevenção de uso e promoção da saúde. Este recorte apresenta os resultados do trabalho realizado com 63 adolescentes, entre 12 e 18 anos, em quatro escolas públicas do município, no período de março a julho deste ano. Para tanto, foram realizados grupos focais, composto por três encontros, em cada instituição escolar, utilizando, como disparador da discussão, recursos potencializadores de criatividade. Denota-se que independentemente do território, os adolescentes demonstram senso crítico em relação a temática da drogadição, uma vez que propõem problematizações a partir dos diferentes discursos que lhes são apresentados.  Nas suas narrativas mostram-se cientes das consequências do uso e tráfico das drogas, enfatizando muitos aspectos relacionados ao fim da vida. Divergem entre percepções que remetem a uma escolha do sujeito e outras a uma não-escolha em relação ao envolvimento com a drogadição. No que diz respeito ao conceito de droga, os sentidos se modificam a partir da dinâmica do território: os adolescentes de duas escolas entendem a drogadição na sua relação com a ilegalidade e violência, não apontando, por exemplo, as nuances que se estabelecem entre lícito-ilícita. Demandam falar daquilo que é real e presente no seu contexto, que parece não haver espaço para refletir sobre outros tipos de drogas. As outras duas escolas trazem como questão principal a noção de vício, ampliando a discussão sobre a temática. Nesta perspectiva, consideram droga também o uso indiscriminado de medicações, alimentos e tecnologia. A partir da amplitude alcançada pelas reflexões dos adolescentes se configura a necessidade e a importância de ações que se deem para além da prevenção do uso drogas, demandando uma linha de atuação conjunta entre os diferentes agentes que compõem o cenário das políticas públicas. Conclui-se que os adolescentes das quatro escolas provocam um movimento que se desloca do pressuposto da inconsequência atribuída socialmente à adolescência, na medida em que identificam fatores de risco relacionados ao uso de drogas, contribuindo para pensar em estratégias de prevenção ao uso e promoção de saúde.


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