EDUCAÇÃO E INFÂNCIA: CORPO, MUNDO E EXPERIÊNCIA DE LINGUAGEM

Ângela Cristine Schulz, Taís Milene Rusch, Sandra Regina Simonis Richter

Resumo


Este trabalho tem por objetivo refletir acerca de estudos e ações realizadas no grupo de pesquisa Estudos Poéticos: educação e linguagem, vinculado aos Programas de Pós-Graduação em Educação e Programa de Pós-Graduação em Letras, da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. O projeto de pesquisa Educação, arte e infância mímesis e experiência de linguagem na Educação Infantil, focaliza a relação educacional entre arte e infância como experiência lúdica de linguagem entre adultos, bebês e crianças pequenas no espaço e tempo da Educação Infantil. Para tanto, o projeto busca investigar a complexa relação entre corpo, linguagem e mundo para destacar a importância da experiência linguageira de começar-se no mundo. Uma experiência que, para Hannah Arendt, não é o início de uma coisa, mas de alguém que é ele próprio um iniciador. Nos educamos imersos em nossos começos linguageiros, em um modo de viver e conviver. Desde uma abordagem teórico-metodológica sustentada na interlocução filosófica entre arte e educação, a partir das fenomenologias de Merleau-Ponty, Arendt e Agamben, concebemos as crianças como sujeitos concretos, que possuem rostos, idades, gestos, ações, sonhos, pernas, pesadelos, nomes e, principalmente, corpos. O corpo da criança está no mundo há pouco tempo, mas ele fala através do movimento, do olhar, da exploração do gesto no mundo. A criança, por não estar em linguagem desde sempre e ter que com ela aprender a nela colocar-se, a infância não é natural, universal e nem pode ser antecipada. Aqui, infância e criança são conceitos diferentes. Infância como tempo radical na vida de todos diz respeito aos começos linguageiros do humano e permite conceber a educação infantil como tempo e lugar de aprender a encantar-se com o ato lúdico de estar em linguagem como devir-brincante que desenha, canta, escreve, pinta, dança, constrói objetos experimentando, tentando e encontrando novidades. É através dessas diferentes formas do corpo estar em linguagem que o humano constitui modos singulares de conviver no coletivo. Neste movimento constante de ler, interpretar e produzir sentidos que a criança se situa no mundo, na intensidade de viver o presente e constituir-se em linguagem com os outros. Para Merleau-Ponty, a experiência do mundo, a cada instante, se faz em nós, pois o mundo não é aquilo que dele podemos pensar, mas aquilo que nele vivemos, ou seja, estou no mundo, mas não o possuo, ele é inesgotável. O sentir, nossa sensibilidade, é o elo de integração vital com o mundo que o torna familiar para nós. É vindo ao mundo que se vem à linguagem e é neste vir-a-ser que recomeçamos. As crianças, desde muito pequenas, em seu modo direto de interpretar e estabelecer interações e significações com os outros e consigo mesmas, subvertem crenças e pressupostos educacionais dos adultos ao mostrarem a complexidade de viver um corpo fenomênico indiviso por estarem, ao mesmo tempo, no mundo e no seu corpo sem nenhuma dificuldade. Dessa integração emerge a alegria e o regozijo da criança em aprender a enfrentar as tensões de tomar decisões singulares no coletivo, como experiência de um pensamento aprendendo a operar múltiplos sentidos pelos muitos modos de estar em linguagem.

 



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