RISCO CARDIOVASCULAR ENTRE TRABALHADORES RURAIS TABAGISTAS E NÃO TABAGISTAS

Matheus Henrique Schultz, Patrik Nepomuceno, Cassiano Severgnini, Hildegard Hedwig Pohl

Resumo


O trabalho rural exige esforço físico, resultando em movimentos repetitivos, posturas incorretas, utilização de equipamentos pesados, além da frequente exposição ao tabaco devido à fumicultura. Pesquisas apontam que no Brasil a prevalência de usuários de produtos derivados do tabaco é superior na área rural. O tabagismo é uma doença crônica caracterizada pela dependência à nicotina. Estudos apontam que o tabaco causa 35 mil mortes ao ano, relacionadas às doenças cardíacas, sendo um dos principais fatores de risco a hipertensão arterial sistêmica. A pressão arterial (PA) pode ser elevada por diversos fatores, como a obesidade, o tabagismo e a idade. A utilização da nicotina gera repercussões no sistema cardiovascular, sendo os principais: aumentos da frequência cardíaca (FC) e pressão arterial (PA), vasoconstrição periférica e aterosclerose, elevando o risco de infarto agudo do miocárdio. O objetivo foi comparar o risco cardiovascular de trabalhadores rurais tabagistas/ex-tabagistas e não tabagistas. Trata-se de um estudo transversal realizado na Universidade de Santa Cruz do Sul com trabalhadores rurais dos municípios de Candelária, Encruzilhada do Sul, Passo do Sobrado, Rio Pardo e Vale Verde - RS, integrantes do projeto de pesquisa “Triagem de fatores de risco relacionados ao excesso de peso em trabalhadores da agroindústria usando novas tecnologias analíticas e de informação em saúde - Fase III” aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (nº 2.349.234). Para a coleta de dados foi utilizado um questionário sobre dados de identificação e de estilo de vida. O peso e altura foram obtidos em balança analógica com estadiômetro, para cálculo do índice de massa corporal (IMC). Foi utilizada fita antropométrica inelástica para obter as circunferências do pescoço (CP), cintura (CC) e quadril (CQ) e posterior cálculo da relação cintura-quadril (RCQ). A FC foi obtida com cardiofrequencímetro e a PA sistólica (PAS) e diastólica (PAD) por meio de esfigmomanômetro manual e estetoscópio. A análise estatística foi realizada no SPSS (v. 23.0). Para verificar a normalidade dos dados utilizou-se o Teste de Shapiro-Wilk e para comparação de médias foram utilizados os testes t de Student para amostras independentes e Teste U de Mann-Whitney. O cálculo do tamanho do efeito foi realizado em calculadora online através do teste d de Cohen.  Foram avaliados 62 trabalhadores com média de idade de 54,9±6,1 anos, predominantemente casados (85,5%) e classe socioeconômica C (61,2%), sendo 50% do sexo feminino. A prevalência de tabagistas e ex-tabagistas encontrada neste estudo foi de 21 indivíduos (33,9%), sendo 45,2% entre os homens e 22,6% entre as mulheres. Observa-se que não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na comparação entre os grupos para as variáveis de FC (p=0,214), RCQ (p=0,492), PAD (p=0,113), IMC (p=0,401), CP (p=0,231) e CC (p=0,856), havendo diferença na PAS (p=0,031). Considerando o tamanho do efeito, encontramos magnitude de efeito médio para FC (d=0,34), PAS (d=0,55) e PAD (d=0,51) e pequena para RCQ (d=0,13), IMC (d=0,05), CP (d=0,13) e CC (d=0,05), corroborando diferença entre os grupos quanto à PAS, indicando que uma amostra maior poderia confirmar a hipótese alternativa para FC e PAD. Verifica-se que o tabagismo está relacionado ao aumento da PA e FC, entretanto não foram observadas diferenças entre os grupos no que se refere ao risco cardiovascular.


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