AVALIAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE AS FAMÍLIAS HAARLEM E BEIJING E RESISTÊNCIA À FÁRMACOS DE PRIMEIRA LINHA EM CEPAS DE MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS DA POPULAÇÃO PRIVADA DE LIBERDADE DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.

Djulia Rafaella Kist, Elisângela Luzia dos Santos, Dandára Costa Fanfa, Andrea Von Groll, Ivy Bastos, Lia Gonçalves Possuelo

Resumo


A tuberculose (TB) é um problema de saúde pública, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil está entre os 30 países com maior carga da doença. As penitenciárias são consideradas reservatórios da doença, sendo que a taxa da incidência pode ser até 50 vezes maior que na população geral. A superlotação, falta de iluminação e ventilação, fragilidade socioeconômico característica dessa população, o precário sistema de saúde e falhas no tratamento contribuem para esse cenário e para o surgimento de estirpes resistentes. A expressão gênica do patógeno sofreu alterações ao longo dos anos, devido a fatores ambientais, aumentando o número de variações específicas nas espécies ou linhagens, tais como deleções, inserção ou polimorfismos de um único nucleotídeo, resultando na alteração da capacidade de sobrevivência, replicação e disseminação. O estudo das linhagens ajuda a compreender a diversidade genética e as características biológicas do patógeno. Cepas das famílias Beijing e Haarlem são caracterizadas por resistência aos fármacos, apesar da primeira ser rara no país. O mapeamento das linhagens corrobora na elaboração do esquema de tratamento mais adequado, visto que, é possível analisar a distribuição geográfica, hospedeiro característico, virulência, transmissibilidade e susceptibilidade a resistência. O objetivo deste trabalho foi determinar a associação entre as linhagens do Mycobacterium tuberculosis com a resistência a fármacos, em cepas da população privada de liberdade do Rio Grande do Sul, entre 2011 e 2014. Trata-se de um estudo transversal retrospectivo. Um total de 236 cepas foram obtidas a partir dos bancos do Laboratório Central do Rio Grande do Sul (LACEN) e do Laboratório de Micobactérias da Universidade Federal do Rio Grande, onde já haviam sido realizados previamente os testes de sensibilidade. Para a realização da genotipagem as cepas foram repicadas em meio de cultura Ogawa-Kudoh, e após o crescimento, submetidas a extração do DNA pelo método CTAB/NaCl. A genotipagem foi realizada através da técnica de MIRU-VNTR 15-locus. Foram analisadas as variáveis sociodemográficas: sexo, idade, co-infecção por HIV e resistência a medicamentos. As análises descritivas foram realizadas no SPSS v.20.0. Para a análise filogenética, utilizou-se o banco de referências de dados online, MIRU- VNTRplus, com classificador Naive Bayes, para predizer a descendência moderna ou ancestral. Houve predominância do sexo masculino e da faixa etária de 25 a 45 anos. A prevalência de co-infecção TB/HIV foi de 18,6%. Do total de cepas, 11,5% eram resistentes aos fármacos, e dessas, 8,6% pertenciam a família Haarlem, e, não foram identificadas cepas Beijing. As principais linhagens encontradas foram Lam e Haarlem, predominantes na América do Sul, Europa e Ásia, onde a segunda família é responsável por 46% dos casos de TB no Brasil. A taxa de co-infecção TB/HIV foi semelhante ao encontrado em um trabalho realizado na Flórida, onde 28,1% eram co-infectados. Entretanto, a taxa de resistência de cepas da família Haarlem foi inferior ao encontrado por Khanipour, onde 47,8% de seu total pertencentes à mesma família, apresentavam resistência. A literatura aponta baixa frequências de cepas  da família Beijing no Brasil, apenas nos estados de Rio de Janeiro e São Paulo. As cepas Beijing e Haarlem não apresentaram relação com à resistência aos fármacos, devido ao baixo número de cepas resistentes, pertencentes à essas famílias, em nosso estudo.

Apontamentos

  • Não há apontamentos.