ATRAVESSAMENTOS NATURAIS: POR UMA PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE AMBIENTAL

Denise Bisolo Scheibe, Bruno Ehrenbrink Petter, Jane M. Mazzarino

Resumo


Uma escola pública, uma área verde, um grupo de alunos com dificuldades, conforme apontado pelos professores. Era o segundo semestre de 2017 quando os investigadores do grupo de pesquisa Comunicação, Educação Ambiental e Intervenções (CEAMI), do Programa de Pós-Graduação Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), da Universidade do Vale do Taquari (Univates) adentrou uma das escolas urbanas de Ensino Fundamental de Lajeado. O objetivo era vivenciar possibilidades de sensibilização ambiental baseadas em um método que explora exercícios sensíveis de olhar, visando à produção de uma subjetividade ambiental, ou seja, uma subjetividade produzida por meio de atravessamentos naturais gerados em processos de educação ambiental. Guattari (1992) afirma que “a subjetividade é produzida por instâncias individuais, coletivas e institucionais”. Assim, por três meses convivemos semanalmente com um grupo de oito estudantes de 11 e 12 anos. Nossa estratégia era baseada no método do Aprendizado Sequencial, de Joseph Cornell (2005, 2008). O autor propõe uma educação ambiental vivencial como forma de, aos poucos, ir levando os sujeitos à imersão na e com a natureza.O método das vivências se divide em quatro fases. A primeira fase tem como objetivo despertar o entusiasmo, a segunda busca concentrar a atenção, a terceira refere-se à experiência direta, e a última fase é o momento de compartilhar as sensações vivenciadas. O objetivo do estudo era observar como as crianças interagiam com e no ambiente natural. Optou-se por desenvolver atividades em todas as semanas a fim de avaliar um processo em continuidade e estabelecer um vínculo com o grupo. Atravessados pela teoria da Ecosofia (GUATTARI, 1990), buscamos observar como as vivências com a natureza eram perpassadas pelas relações subjetivas e sociais. Para Guattari, estes são os três registros ecológicos que intercambiam e podem ser movimentados para a criação de novos territórios existenciais. As atividades evidenciaram que o grupo de crianças trazia, inicialmente, uma relação utópica com a natureza, pensando nela como uma entidade mística, cuidada por índios e animais. Alguns também associavam a natureza a um espaço degradado, projetando o futuro como um lugar sem recursos naturais. Aos poucos, a relação dos alunos com a natureza foi perpassada pelo sentido de responsabilização. Deste modo, percebemos que a trajetória histórica da relação dos humanos com e na natureza foi revivida espontaneamente pelo grupo de crianças ao longo das experiências criadas para as 10 oficinas. Os próximos passos da pesquisa incluem a reflexão e aprofundamento da noção de produção de uma subjetividade ambiental.

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