ESÔFAGO NEGRO: UM RELATO DE CASO

Vanessa Regina Limberger, Fabiana Assmann Poll, Jaqueline Faber Rech, Denise Wojahn de Lima, Taismara Silveira

Resumo


Introdução: A necrose aguda do esôfago (NAE), ou esôfago negro, é uma patologia rara, representada pela primeira vez na literatura por Gondenberg et al. A etiopatogenia ainda é desconhecida, apesar da isquemia ser a causa mais frequentemente sugerida, sendo o risco cardiovascular e a angiopatia associadas a esta hipótese, assim como refluxo gastroesofágico, iatrogenia (antibióticos, anti-inflamatórios) e infecções. Atinge principalmente pessoas em idade avançada, na presença de comorbidades, e do sexo masculino. O diagnóstico é feito através de endoscopia digestiva alta (EDA), sendo possível observar a coloração negra do esôfago que representa a necrose da mucosa. Devido ao local de acometimento, repercute no estado nutricional (EN), podendo comprometer a ingestão alimentar. Este trabalho tem por objetivo descrever o caso de um paciente portador de NAE internado em um hospital de ensino do interior do Rio Grande do Sul. Metodologia: Estudo de caso com dados secundários do prontuário eletrônico do paciente num hospital de ensino do interior do Rio Grande do Sul, no período de maio de 2018. Resultados e discussão: Paciente do sexo feminino, 86 anos, aposentada, viúva, natural de Santa Cruz do Sul/RS. Internação hospitalar devido diagnóstico de NAE. Realizou EDA, que evidenciou necrose esofágica extensa (poupando apenas ±15 cm do terço superior), erosões, ulcerações e pontos hemorrágicos. Possuía diagnóstico prévio de Parkinson, Alzheimer, Acidente Vascular Cerebral, Hipertensão Arterial Sistêmica, Insuficiência Cardíaca Congestiva e úlcera venosa em membro inferior esquerdo. Atualmente fazia uso de antidepresssivos, antiparkinsonianos, antihipertensivos, anticoagulantes, antiácidos e medicamento para hipotireoidismo. A paciente foi classificada como eutrófica, com peso estimado de 65 kg, altura de 1,56 m e Índice de Massa Corporal igual a 26 kg/m². Foram aferidas a circunferência da panturrilha e circunferência do braço, obtendo-se a classificação de adequada (33 cm) e eutrofia (29 cm), respectivamente. A triagem de risco nutricional resultou escore cinco, estando a paciente em risco nutricional. A alimentação pela via oral (VO) e enteral foram contraindicados, devido ao risco de perfuração do esôfago. Foi solicitado avaliação do médico gastroenterologista com vistas de iniciar nutrição parenteral (NPT). As necessidades nutricionais foram calculadas de acordo com o EN, conforme recomendação 30 kcal/kg peso estimado/dia e 1,5 g ptn/kg peso estimado/dia, totalizando 1950 kcal e 97,5 g de proteína. A progressão da NPT foi realizada durante três dias consecutivos, obtendo como valores de nutrição plena, lipídios 12 ml/h e NPT 65 ml/h. A paciente beneficiou-se da NPT durante 12 dias, sendo introduzida gradativamente dieta pastosa, com boa aceitação. Devido ao prognóstico reservado e demais comorbidades, optou-se por liberar dieta VO, a fim de trazer maior conforto e programar alta hospitalar. Conclusão: Entende-se que o uso da NPT foi de extrema importância, sendo esta via de melhor escolha, visto que o trato gastrointestinal estava impossibilitado de ser utilizado. O manejo inclui hidratação, tratamento da patologia de base e nutrição parenteral temporária, sendo o tratamento individualizado e de acordo com as condições clínico-patológicas. O NAE por si só não constitui uma doença terminal, pois o prognóstico depende da situação clínica de base, comorbidades e idade avançada. Palavras-chave: necrose aguda do esôfago; terapia nutricional.


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