Patrimônio vivo: “Niseriando” em sinuosidades e percursos da arte bruta na consolidação do processo de reforma psiquiátrica brasileira.

Autores

  • Mircele Massirer Rodrigues da Silva
  • Heloisa Helena F. G. da Costa
  • Rita de Cássia Barcelllos Bittencourt

Palavras-chave:

Patrimônio Cultural, Nise da Silveira, Arte Bruta.

Resumo

Colocar em jogo o princípio de que o Patrimônio Cultural é um instrumento significativo para a inclusão social, propõe um deslocamento da ideia de patrimônio como algo apenas do passado, recolocando-o como algo vivo e pulsante como tem sido a produção cultural dos usuários da saúde mental. As ideias revolucionárias da “Dra.” Nise da Silveira acerca das formas de tratamento oferecidas aos doentes mentais foram as precursoras do caminho que hora se anuncia. A reforma psiquiátrica brasileira emerge da ruptura com o modelo nosocomial, em busca da extinção progressiva destas superestruturas, para a constituição de uma rede de dispositivos territoriais de cuidado. O ideário Niseriano propôs uma ruptura com a primitividade das práticas como eletrochoque e lobotomia, instituindo novas formas de cuidado em saúde mental. Ao reinaugurar a sessão de terapêutica ocupacional do hospital do Engenho de Dentroatual Instituto Nise da Silveira, Nise da Silveira estava empreendendo a primeira grande reforma psiquiátrica brasileira, a transformar em verdadeiros ateliês terapêuticos os espaços de pintura e criação para os usuários do em sofrimento mental, formas mais humanas de cuidado. Este artigo pretende evidenciar a potencialidade da Arte Bruta (a arte produzida por pessoas em sofrimento mental), considerando-a como um Patrimônio Cultural simbólico do ser humano. Desse modo, ao utilizar atividades artísticas nos diferentes serviços de atenção psicossocial da rede de atenção psicossocial, os usuários podem criar obras de caráter artístico, as quais podem ser valorizadas, considerando critérios diferenciados de qualidade, criatividade, ruptura e inovação que por inúmeras razões que levariam o autor a ser inserido em uma das tipologias de patrimônio considerada pela Unesco, a de talento humano vivo, devido às condições em que se encontrava quando produziu tal obra. Concluindo esses espaços de criação tornaram-se ferramentas potentes para o resgate e constituição de uma nova conexão identitária desses sujeitos, ao abrir mão da identidade de louco e improdutivo, além de ressaltar a importância dessa arte como patrimônio cultural simbólico e representativo desse segmento populacional. Assim, a identidade “patrimônio vivo” e o sentimento de pertencimento social para essas pessoas, além de ressignificar o cotidiano pode contribuir para o avanço da reforma psiquiátrica.

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Biografia do Autor

Mircele Massirer Rodrigues da Silva

Terapeuta Ocupacional, Mestranda em Patrimônio Cultural UFSM.

Heloisa Helena F. G. da Costa

Professora Orientadora. Professora convidada do PPGPPC/UFSM. Pós-Doutorada em Belas Artes, Doutorada em Sociologia, Mestre em Ciências Sociais e Graduada em História e Museologia. Professora do Mestrado em Museologia e Patrimônio da UNI-RIO e da Pós-Graduação em História da UFBA.

Rita de Cássia Barcelllos Bittencourt

Professora Co- orientadora. Terapeuta Ocupacional, Professora do Departamento de Terapia Ocupacional UFSM. Doutora em Educação -UDM-Chile. Mestre em Ciência da Motricidade Humana UCBRJ, Especialista em Psiquiatria Social- FIOCRUZ.RJ.

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Publicado

2018-10-13

Como Citar

Silva, M. M. R. da, Costa, H. H. F. G. da, & Bittencourt, R. de C. B. (2018). Patrimônio vivo: “Niseriando” em sinuosidades e percursos da arte bruta na consolidação do processo de reforma psiquiátrica brasileira. Revista Do CEPA, 37(49). Recuperado de https://online.unisc.br/seer/index.php/cepa/article/view/12704

Edição

Seção

Artigos