GRUPO DE ARTESANATO: COSTURANDO VIDAS E CRIANDO SENTIDOS

Carine Guterre Cardoso, Emanueli Paludo, Margarida Mayer, Denise Henriqsond

Resumo


 

Os problemas de saúde mental estão cada vez mais presentes no cotidiano das Estratégias de Saúde da Família – ESFs, assim novas práticas fazem-se necessárias para abarcar esta demanda. Considerando o caráter multifacetário da saúde, o entrelaçamento da arte com a saúde mental torna-se uma proposta terapêutica ampla e eficaz. O grupo de artesanato constitui-se numa estratégia de promoção à saúde e com grande potencial terapêutico. Este trabalho é um relato de experiência a partir da observação participante sobre o grupo de artesanato realizado na ESF Senai de Santa Cruz do Sul sob a ótica de uma estudante de Psicologia, integrante do PET-SAÚDE/SAÚDE DA FAMÍLIA da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Pretendeu-se analisar as repercussões do processo nos integrantes do grupo. O grupo de artesanato é coordenado pelas Agentes Comunitárias de Saúde, é um grupo aberto e heterogêneo, tem como público alvo a comunidade moradora na área de abrangência da ESF referida. O grupo ocorre semanalmente na sala de grupos da ESF, nas quintas-feiras no período da tarde. Este grupo surgiu no final do ano de 2010, após discussões da equipe quanto à necessidade de criação de um espaço que visasse, além da realização de trabalhos manuais, a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Buscou-se assim, a construção de um espaço propício para a fala e a escuta, onde pudesse ocorrer o compartilhar de experiências. O grupo produz trabalhos manuais como confecção de tapetes, almofadas e chaveiros, vasos decorativos, pinturas, patchwork, entre outras, predominantemente com o uso de materiais recicláveis. As produções são regadas com muita música, canto, conversa e chimarrão, tornando-se palco para a verbalização das situações do dia a dia. São frequentes os temas relacionados a família, saúde/doença e trabalho. Mas, vai-se muito além, as integrantes trazem suas angústias, seus medos, desejos, necessidades, vindo à tona toda a dimensão subjetiva que as constitui. Observa-se que o grupo propicia um momento rico de trocas existenciais, onde as integrantes costuram muito além de panos: costuram os fragmentos de suas vidas, atribuindo novos sentidos para suas experiências, pois percebem que não são as únicas que estão passando por problemas, sejam eles de qualquer origem. Além disso, pode-se observar que o grupo favorece a autonomia dos sujeitos participantes, instrumentalizando-o na resolução de suas dificuldades e problemas; promove a saúde, propiciando o bem-estar; oferece suporte emocional e social as mudanças que ocorrem na vida dos integrantes, criando estratégias de enfrentamento ao sofrimento; estabelece vínculos entre os participantes; e fortalece o vínculo existente entre o usuário e a ESF. A atenção básica possui potencial para o desenvolvimento de ações em saúde mental, pois possui um papel fundamental na detecção do sofrimento psíquico e na escuta, bem como no tratamento na própria ESF e no encaminhamento aos serviços especializados.

 


Apontamentos

  • Não há apontamentos.