OS DA MINHA E OS DA TUA RUA
Resumo
O que há pouco tempo sequer era percebido, hoje é um dos grandes temas abordados na área da educação: a infância. Se até o século XVII a criança era tida como um adulto em miniatura, como um indivíduo que não tinha vontades próprias, agora a Sociologia da Infância apresenta uma série de questões pontuais sobre essa temática. A criança passou a ser vista como um indivíduo carregado de significados, os quais precisam ser percebidos nas diferentes relações humanas. Tais relações são fundamentadas dentro dos distintos espaços em que a criança interage: familiar, escolar e nas relações de amizade. A criança convive com uma pluralidade de socializações humanas e sua infância é constituída de experiências heterogêneas. Daí a importância de haver um constante diálogo entre esses espaços diferenciados. Esse diálogo é enfocado na obra Os da minha rua, de Ondjaki. Através dela podemos conhecer um pouco da literatura angolana e de sua consolidação no cenário mundial. Nessa perspectiva, analisamos a concepção de infância exposta na obra, verificando pontos em comum em relação aos diferentes contextos de interação em que essa fase se desenvolve. Em seus 22 pequenos relatos, o escritor retrata a infância sob sua ótica e demonstra a constante influência que essa fase acaba recebendo diante de inúmeros cenários de interação: a rua, a casa da família, a escola, os vizinhos etc. Gradativamente, são apresentados ao leitor várias personagens que, cada uma ao seu modo, interferem na maneira como o narrador descobre o mundo. A obra, apesar ser dividida em narrativas distintas, consegue situar o leitor em um tempo e em um espaço. Em relação ao espaço, ele se dá nos diferentes contextos de interação. Quanto ao tempo, observamos que Ondjaki estabelece a ideia de uma transição no desenvolvimento de um ser humano. Ndalu (também chamado de Dalinho) é o narrador (em primeira pessoa) e a personagem que aparece em todas as histórias, ora como personagem principal, ora comentando experiências vivenciadas. Ao mesmo tempo em que narra sua infância, Dalinho apresenta dados importantes sobre a vida de outras personagens. O fator cronológico de tal fase de transição pode ser percebido através de alguns implícitos contidos na obra. Com uma linguagem fluente, apesar de nos trazer palavras típicas do contexto angolano, Ondjaki nos fala de como o convívio social pode ser narrado através da visão de uma criança e de suas vivências. Podemos concluir, então, que independentemente do local em que se encontre, através de sua curiosidade, de sua capacidade de imaginar, da ludicidade que está presente em seu viver, a criança tem a capacidade de construir um mundo que é só seu e de projetar um futuro que poderá se parecer com 223um lugar aberto, uma varanda, talvez uma canoa onde é preciso enchermos cada pedaço de espaço com o riso do presente e todas, todas as aprendizagens do passado, que alguns também chamam de antigamente224[1]. Os da minha, os da tua, enfim, os das nossas infâncias, vivem assim: cada um a seu modo. Mas o melhor de tudo é saber que dentro de todos nós existe uma criança que pode ser despertada a qualquer momento.
[1] ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007 (p.143).
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