240A poesia folclórica, as histórias, as parlendas e as canções acompanham o ser humano desde o nascimento. Narrar e contar são atividades que podem ser iniciadas durante a gestação, quando a mãe acaricia a barriga enquanto lê em voz alta, como afirma Zumthor (2007). Nesse sentido, na maioria dos casos, quando a criança ingressa na escola, já teve contato com a magia da literatura e, muitas vezes, já é leitora, ou já está em processo intenso de letramento, com rudimentos de alfabetização. Segundo Girardello (2007), as pessoas contam as histórias, ouvem e cantam as canções e brincam com as parlendas de que mais gostavam quando elas mesmas eram crianças. Os pais vão proporcionar aos filhos contato com o que mais os marcou na sua infância, textos que constituíram para eles experiência poética (RICHTER e FRONCKOWIAK, 2009). Hoje, a maioria das crianças começa a frequentar a escola muito cedo e lá o contato com as práticas de leitura e escrita são muito formais e pouco produtivas, pois a escola tem dificuldade em desenvolver bem a arte de contar histórias enquanto atividade de experimentação poética das linguagens.240 Mas o simples fato de ver os pais, cuidadores ou responsáveis lendo e convivendo com textos escritos poderá levar a criança a se espelhar neles e também se tornar uma leitora assídua. Outra forma pode acontecer na escola, quando o(a) professor(a) propõe aos discentes oportunidades de contato com poesias e narrativas, de forma atrativa e lúdica, influenciando o aluno a criar o gosto pela leitura e vocalização de textos. Com este trabalho monográfico, desenvolvido no Curso de Letras Português/Inglês da UNISC, procurei fazer reflexões sobre minha prática docente, já que exerço o magistério, e demonstrar o percurso que me possibilitou, depois de ter descoberto o poético, perceber que eu também aprendia quando estava ensinando em minhas aulas; de ter experimentado que a relação entre professor e aluno é uma troca mútua, começar uma mudança em mim para, a partir dela, garantir a possibilidade de transformação no outro. Há diversas atividades que, na maioria das vezes, caem no gosto da garotada, fazendo com que a leitura e a escrita se tornem experiências desafiadoras: releituras de poemas, produção de rimas, produção e ilustração de poemas produzidos pelos próprios alunos, fóruns literários, encenação teatral etc. Outro aspecto relevante é a viva voz do professor, ou seja, a voz que tem uma intencionalidade. Ela é imprescindível para que o contato com a literatura ou a arte de contar histórias se torne experiência desafiadora às crianças que ainda não leem. Esse processo é enfocado por Valery (1999) quando ressalta que a palavra poético, [do radical grego poïen] quer dizer o fazer através das palavras. Oferecendo o maior número de experiências envolvendo a leitura, a escrita, a vocalização e o dizer de poemas e textos narrativos aos meus alunos, desejei que fossem tocados pelo "universo das letras", pois somente um professor encantado poderá cativar seus alunos para terem o gosto pela língua e pela literatura, transformando sua docência numa experimentação poética.240