PALAVRAS SEM FRONTEIRAS: ESPANHOLISMOS NA LITERATURA GAÚCHA
Resumo
O Rio Grande do Sul sempre sofreu inúmeras influências dos países platinos. Há quem diga, inclusive, que nosso estado tem muito mais semelhanças com os países do Rio da Prata do que com o próprio Brasil. Além da proximidade física 226 limites 226, a história e a literatura nos mostram que os gaúchos sempre tiveram uma ligação forte com os países fronteiriços, fato que, na opinião de muitos, nos faz diferentes do restante do Brasil. Nas danças, no folclore, nas vestimentas e até mesmo no vocabulário são bem visíveis essas influências. Com relação à literatura, além de abordar temas comuns para gaúchos e platinos (questões históricas, principalmente), os cenários utilizados frequentemente são os de fronteira: ora se está do lado de cá, ora do lado de lá. O linguajar utilizado é outro fator instigante. A mescla entre os idiomas (português e espanhol) ocorre tão naturalmente que, muitas vezes, o leitor nem estranha a existência de espanholismos no decorrer do texto. Nossa investigação leva em conta essa mistura recorrente entre as línguas dentro da literatura gaúcha, tendo como objetivo verificar a presença de palavras e expressões platinas na elaboração de contos dos autores João Simões Lopes Neto, Sergio Faraco e Aldyr Garcia Schlee. Além disso, buscamos compreender em que medida os espanholismos contribuem para marcar um estilo diferenciado nesses textos. Iniciamos nosso trabalho pela origem das línguas portuguesa e espanhola, para explicar as semelhanças entre os idiomas e a possível procedência das trocas entre ambos. Em seguida, analisamos a questão da fronteira que também auxilia nesse processo de aproximação. Os neologismos e empréstimos linguísticos também são objeto de nosso estudo, já que os espanholismos são um tipo de empréstimo. Por último, passamos à análise dos contos e o sentido dos espanholismos dentro dos mesmos. Ao término de nossa pesquisa, notamos que a presença de espanholismos na literatura gauchesca é bastante frequente, aparecendo de formas distintas nas obras dos autores estudados. As intercorrências variam e vão desde palavras incorporadas ao nosso vocabulário, terminações vindas do espanhol (como aço e ito), palavras com a origem mantida, expressões e até mesmo frases inteiras. Acreditamos que a utilização dos espanholismos não atrapalha em nada a compreensão do sentido do texto, pois, em alguns momentos, nem nos damos conta de que aquela palavra que acabamos de ler não faz parte do nosso idioma. Entendemos que a utilização desse recurso seja algo valioso e enriquecedor para a nossa literatura, pois, além de criar um estilo diferenciado de escrita, acresce nosso vocabulário. Enfim, concluímos que o entrelaçamento das línguas presente na literatura gaúcha é influenciado por inúmeros fatores, dentre os quais o desejo de realizar um apagamento de fronteiras entre os países do Rio da Prata e o Rio Grande do Sul, realizando, assim, uma aproximação que a própria história já havia delineado.
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