PAZ: PENSANDO O CONCEITO NA PERSPECTIVA PROPOSITIVA

TALULA RITA MONTIEL SEVERO SIQUEIRA TRINDADE, SUZANA MARIA THUMÉ AMOS, SUSANA TEREZINHA MAS

Resumo


A Campanha Global de Educação para a Paz, instituída pela Organização das Nações Unidas em 1999, tem entre os seus objetivos a formação de multiplicadores, dado que a educação é fundamental para a construção de uma cultura de paz. Nesse mesmo ano, a Universidade de Santa Cruz do Sul criou o Projeto de Extensão Educação para a Paz que, em conjunto com outras instituições, trabalha com educadores na reflexão e troca de experiências sobre as complexas questões que desenham a educação para a paz. Especialmente a partir de 2006, esse trabalho com os educadores tem se desenvolvido através dos Círculos de Cultura de Paz, metodologia sustentada pela relação dialógica que promove o conhecimento compartilhado. O projeto tem entre seus objetivos contribuir para a resolução não violenta de conflitos e multiplicar o número de educadores comprometidos com a educação para a paz. Por essa razão, são desenvolvidas ações como palestras, oficinas pedagógicas, cursos e caminhadas que enfatizam a necessidade de que as relações interpessoais sejam estabelecidas dentro de princípios éticos. A paz é o conceito definidor do projeto e, por isso, é sempre estudado nas diferentes ações desenvolvidas. Se analisarmos as manifestações realizadas pelas autoridades em geral, pelos meios de comunicação social, pelos artistas, pelas igrejas, pelas instituições de segurança pública, entres outros, podemos perceber que os discursos sobre a paz contêm grandes diferenças e, inclusive, contradições. É muito comum a palavra paz estar ligada à manutenção da ordem através de aparatos de segurança pública. Também comum é a vinculação entre paz e ausência de conflitos interpessoais ou, por último, à tranquilidade interior. Buscando superar essa visão tradicional de paz, trabalhamos com diferentes autores, destacadamente com Marcelo Rezende Guimarães e Xesús Jares. Para esses dois estudiosos a paz não é a oposição à guerra, mas, sim, a antítese à violência. Para Jares (2002, p. 123-124) 223é preciso levar em conta também outras formas de violência menos visíveis, mais difíceis de reconhecer, mas também mais perversas no sentido de produzir sofrimento humano224. Nessa maneira de pensar a paz, evidencia-se que ela tem relação com a violência, mas num sentido de construir a superação das suas causas e não apenas a sua ausência. Portanto, para que possamos edificar as condições necessárias para a paz, são necessários três alicerces: o desenvolvimento, os direitos humanos e a democracia. Em primeiro lugar, os frutos do crescimento econômico ou do desenvolvimento precisam ser distribuídos equitativamente; em segundo lugar, um desenvolvimento que vá para além do econômico, abrangendo a educação, o meio ambiente, as artes e a cultura em geral, a superação de desigualdades entre os gêneros e etnias. No que diz respeito aos direitos humanos, cada pessoa precisa ter os seus direitos respeitados, garantindo uma vida digna. Como terceiro alicerce, a sociedade precisa garantir uma sólida democracia, para que haja vez e voz a todos os cidadãos, não apenas instituindo eleições para que escolham seus representantes, mas tenham a possibilidade de participar mais ativamente nas decisões a respeito dos rumos tomados pela sociedade, possibilitando que todos possam ter acesso aos bens econômicos, sociais, ambientais, culturais. Conceber a paz a partir dos pressupostos aqui apresentados tem trazido aos educadores a possibilidade de pensar a educação para a paz de forma crítica e, também, propositiva.


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