ESTUDO DE CASO: REFLEXÕES A PARTIR DA CLÍNICA PSICANALÍTICA
Resumo
A psicanálise, enquanto método de investigação do inconsciente está embasada em uma ética da escuta ao discurso, ao desejo de um sujeito. Além do compromisso direto com as pessoas que procuram livrar-se de seus entraves, os psicólogos que se comprometerem com esse ofício encontram-se também sob a responsabilidade com a produção de conhecimento e a evolução teórica e técnica da psicanálise. Da consciência dessa responsabilidade produz-se o presente trabalho, que consiste em uma revisão teórica com o objetivo de abordar como se dá a pesquisa em psicanálise, sua metodologia, o conceito de caso clínico e sua função, elementos para pensar a sua construção e a questão da ética envolvida na escrita de um caso clínico. Assim, este texto nasce do desejo de buscar elementos para compreender a construção do caso clínico em psicanálise bem como a importância da escrita a partir de uma escuta sustentada pela sua ética. A pesquisa em psicanálise se pauta pela inclusão do desejo do pesquisador na constituição do enigma que busca desvelar através do seu trabalho e pela consideração da realidade psíquica antes de qualquer outro fator, visto que ela medeia toda a relação do sujeito com o mundo. Para alcançar esse objetivo, a ferramenta metodológica é a construção do caso clínico, cuja sistemática de análise dos dados não é restrita ao domínio do signo, em conteúdo ou discurso, mas sim ao domínio do significante e, assim, do sentido. Por caso clínico entende-se um relato de uma experiência singular, escrito por um terapeuta para atestar seu encontro com um paciente e respaldar um avanço teórico, ou seja, consiste na possibilidade de se privilegiar o tratamento de um sujeito na sua singularidade, incluindo na sua construção os efeitos transferenciais do próprio trabalho. A utilidade desta escrita é a de servir como parâmetro para a discussão da teoria subjacente ao caso, ou seja, provocar uma problematização da teoria e uma tentativa de apoiar sua modificação ou confirmação. Escrever serve também para estabelecer uma distância a partir da qual o terapeuta retoma o seu lugar, de modo que o escrito funciona como a continuação do diálogo com o paciente. Para escrever um caso clínico faz-se necessário pensar a respeito da estrutura e elementos do texto, bem como na gestação desse caso a partir do relato do paciente, ou seja, no recorte que irá ilustrar o que se deseja mostrar a partir dele. Nesse sentido, o caso não é o sujeito, mas sim uma construção com base naquilo que recolhemos de seu discurso e que nos permite inferir sua posição subjetiva, sendo o produto daquilo que se extrai das intervenções do terapeuta na condução do tratamento e do que é selecionado a partir do seu relato. A sequência da exposição e construção do caso, conforme vários autores é composta pelos itens: informações inicias acerca do paciente, interpretações e hipóteses sobre o caso e ligação destes elementos com a teoria, visando construir novos entendimentos. Com relação à ética na escrita de casos clínicos, faz necessário mascarar e/ou omitir todos os dados e detalhes que possam identificar o paciente, mas sem que isso faça perder a experiência viva que o caso vem atestar. Conclui-se que é desafiadora a atividade de construção de um caso clínico e que devemos, portanto, estar atentos em relação a todos os aspectos envolvidos nessa produção, a fim de sustentar a ética proposta pela psicanálise e ao mesmo tempo contribuir para os avanços necessários à sua teoria e técnica.
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