Durante muito tempo, o sujeito trabalhador foi categorizado como objeto a ser trabalhado a fim de explorar sua capacidade produtiva. Ao longo de lutas e mobilizações que buscavam promover e elevar as condições humanas no ambiente de trabalho, nasce a saúde do trabalhador a partir da organização e da reivindicação de trabalhadores, da produção acadêmica e dos sindicatos. O modelo da saúde do trabalhador tem sua raiz na medicina social e se insere no campo de saúde pública, diferenciando esse saber das outras práticas em saúde do trabalho, propostas até então. A saúde do trabalhador tem por objetivo intervir na relação trabalho/doença, proporcionando uma posição ativa do trabalhador frente seu campo de trabalho, um olhar crítico e participativo nas ações de saúde propostas. A partir dessas especificidades do campo, surgiu o interesse de observar, na prática, o desenvolver do trabalho. Para tal, utilizou-se como dispositivo de reflexão a observação de uma Unidade Municipal de Referência em Saúde do Trabalhador (UMREST), localizada no Vale do Rio Pardo 226RS. Com essa aproximação, tornaram-se visíveis questões relacionadas aos jogos de poder e regime de verdades que perpassam o campo, que ainda insistem em sustentar a ótica do trabalhador como objeto capaz de produzir lucro, influência do modelo capitalista. Destaca-se que a visão crítica e a produção de conhecimento na saúde do trabalhador são de suma importância, pois só assim é possível mudar, realmente, o cenário atual da saúde do trabalhador e produzir saúde nas relações de trabalho.240Este estudo 226 que proporcionou uma reflexão sobre a prática na área da saúde do trabalhador, mostrando que este campo vivencia fortes pontos de tensão e luta de poder, evidenciando, em consequência, um grande caminho a se trilhar em busca de promoção de saúde no âmbito do trabalho 226 nos fez perceber, ainda, a necessidade de engajamento do trabalhador numa posição ativa de busca de reconhecimento e dos seus direitos, juntamente com a necessidade de desnaturalização de certos preceitos que beneficiam apenas uma pequena parte da sociedade.240Entretanto, visando à necessidade de estudos e aprimoramentos nessa área, este trabalho não tem como intuito trazer apenas uma realidade e questioná-la, mas poder refletir os fatores que ocasionaram tal realidade e pensar formas de melhorias.240Para o caso explorado acreditamos ser necessário manter em uma postura relutante na busca de uma infraestrutura apropriada e em busca de conscientização e o engajamento de pessoas que, juntas, possam ajudar a mudar o olhar alienante que envolve e encoberta os problemas que se apresentam latentes. Ou seja, é necessária a busca cotidiana de um olhar ético, que possibilite a reflexão do que lhe está sendo dado.