A Estratégia de Saúde da Família (ESF) busca aproximar as ações do território ao fortalecer o vínculo entre a equipe de saúde e a comunidade de abrangência, assim como aprimorar o trabalho preventivo e de promoção de saúde. Embora o psicólogo não esteja contemplado na equipe mínima da ESF, sua inserção é importante por contribuir para a transformação das práticas em saúde rumo à integralidade. Na ESF, a Psicologia desponta como proponente de algumas intervenções, como o trabalho com grupos e o das equipes de saúde mental. Neste sentido, o presente trabalho objetiva relatar e problematizar as vivências de uma estagiária que desenvolveu o Estágio Integrado em Psicologia (2012 e 2013), vinculado à Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), na Estratégia de Saúde da Família no bairro Glória/Imigrante, em Santa Cruz do Sul/RS. Assim, um dos pontos centrais do estágio foi estabelecimento de vínculo e a criação de laços de pertencimento e de co-responsabilidade entre os profissionais da saúde e a população. Enfocar as famílias (e não os indivíduos) nas múltiplas dimensões da saúde exigiu a reformulação da postura dos profissionais da equipe, assim como a incorporação de outros saberes para compor a produção do cuidado com a saúde. Dentre as principais atividades desenvolvidas destacamos a prática em conjunto com a equipe nas visitas domiciliares (VD's), a observação de acolhimentos, a participação dos grupos de gestante, de Educação em Saúde (diabéticos e hipertensos), das reuniões de equipe e dos atendimentos individuais. A ESF Glória/Imigrante é local de estágio curricular para os cursos, como Farmácia, Odontologia, Fisioterapia, Nutrição e Enfermagem, sendo que o trabalho conjunto ocorreu principalmente com os estagiários de Fisioterapia e Enfermagem. A construção de redes se apresenta como uma tarefa complexa, exigindo a implementação de tecnologias que qualifiquem os encontros entre diferentes serviços, especialidades e saberes. Entretanto, a construção de uma rede na saúde implica mais do que ofertas de serviços num mesmo território geográfico, implica saber como estes serviços estão se articulando, qual o padrão comunicacional estabelecido entre as diferentes equipes e os diferentes serviços e quais modelos de atenção e de gestão estão sendo produzidos. À medida que estes serviços consigam se perceber como complementares da política de saúde e estabelecerem trocas (discussão dos casos, apoio matricial, co-responsabilização pelas pessoas em sofrimento), afetando-se uns aos outros, estes serviços poderão ter maior potência no seu agir, maior agilidade na tomada de decisões e atuação em tempo mais adequado, diminuindo o sofrimento. Para finalizar, mas não menos importante, ressaltamos que à Psicologia mantém-se o desafio pela busca do trabalhar coletivo e interdisciplinar, construindo relações de responsabilização mútua, para além daquela que responsabiliza unicamente o indivíduo por suas vivências de saúde-doença.

Palavras-chave: Psicologia; Estratégia de Saúde da Família; Interdisciplina.