Introdução: em fetos e recém-nascidos, os mecanismos envolvidos na vocalização são pouco conhecidos. Ainda não estão totalmente elucidados os aspectos anatômicos e nervosos das estruturas envolvidas no aparato vocal de fetos, como músculo tireoaritenoideo (MT) e o nervo laríngeo recorrente (NLR). Estes responsáveis pelo choro do recém-nascido parecem não ter recebido a atenção merecida em pesquisas científicas. Objetivos: descrever bilateralmente alguns parâmetros histomorfométricos do NLR e do MT para a quantificação do número e tamanho das unidades motoras (UMs) do MT de um feto humano feminino com 25 semanas de idade. Metodologia: as amostras são provenientes de um feto feminino de 25 semanas pertencente à coleção didática do Laboratório de Histologia e Patologia da Universidade de Santa Cruz do Sul e processadas no mesmo laboratório. As fotomicrografias foram obtidas com câmera de captura Leica DC 300F acoplada a microscópio Olympus BX 50, com o software Leica Image 50 (IM50). Resultados: o comprimento do NLR esquerdo, de sua origem até o seu ponto de entrada na laringe (ligamento cricotireoideo), foi de 90,1 mm, enquanto que a do NLR direito foi de 75,25 milímetros. Os cortes histológicos mostraram fibras de colágeno em torno dos nervos com tecido adiposo e vasos sanguíneos adjacentes. É evidente que a área intraperineural e o diâmetro do NLR direito é maior do que a do nervo esquerdo. Esta diferença é confirmada pelo número total de fibras no nervo direito e os seus ramos, que é maior do que no nervo esquerdo. No entanto, essa diferença morfológica é compensada pela área e o diâmetro das fibras nervosas, que é menor no NLR direito do que no esquerdo. Os valores obtidos pelo teste de correlação foram 0,8696 e 0,9570 para o NLR e MT, respectivamente. Todos os parâmetros quantificados foram expressos em micrômetros ou milímetros e porcentagens. Para NLR, MT e UMs, os resultados são também expressos como uma percentagem (estruturas do lado direito), que foi considerada ser 100%. Os resultados obtidos na avaliação morfométrica do NLR, TA e UMs são, respectivamente: NLR: densidade da fibra (mm2): 25.510 (100%) e 25.241 (98,9%); Área intraperineural (mm2): 0.483 (100%) e 0.211 (43,6%); Diâmetro intraperineural (mm) 0.784 (100%) e 0,517 (65,9%); Número total de fibras: 8117 (100%) e 5398 (66,5%); Número total de ramificação: 4666 (100%) 4000 (85,7%); Área da fibra (um2): 5,41 (100%) e 6,85 (126,6%); Diâmetro da fibra (mm): 2,61 (100%) e 2,94 (112,6%). MT: densidade da fibra: (mm2) 46,365 (100%) e 44172 (95,2%); Área da fibra (um2): 17,5 (100%) e 24,5 (140%); Diâmetro da fibra (mm): 4,61 (100%) e 5,56 (120,6 %); Número total de fibras: 59048 (100%) e 65723 (111.3%); Secções transversais da área muscular (mm2): 1,27 (100%) e 1,48 (116,5%); Diâmetro muscular (mm): 1,27 (100%) e 1,38 (108,6%). UMs estimadas no MT: UMs 2800 (100%) e 2400 (85,7%); Tamanho das UMs 21,0 (100%) e 27,3 (130%). Conclusão: os resultados demonstraram que existem assimetrias morfológicas entre os nervos NLR fetais esquerdo e direito. Além disso, observou-se que o MT do feto analisado mostrou UMs típicas de músculos com grande precisão motora, especialmente o direito. Assim, estes resultados podem ser utilizados para aumentar o conhecimento das características da voz em adultos e recém-nascidos e pode ser o ponto de partida para compreender o desenvolvimento embrionário total do NLR e MT.