RELEITURA DE "O HOMEM, O ESTADO E A GUERRA", DE KENNETH WALTZ: UMA REVISÃO DA ANÁLISE TEÓRICA FRENTE AOS NOVOS PARADIGMAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS.

TATIANA VARGAS MAIA, CAMILA PALHARES BARBOSA

Resumo


A obra "O homem, o Estado e a Guerra", de Kenneth Waltz, 1959, é um clássico nos estudos das Relações Internacionais, constituindo um dos referenciais teóricos neo-realista. O objetivo central da obra é entender as principais causas da guerra, avançando uma análise que viabiliza tanto o entendimento dos conflitos internacionais quanto a construção político-prática da paz imediata. Partindo do pressuposto de que existe uma dinâmica de constituição mútua estabelecida entre a ocorrência de guerras e a formação dos Estados (TILLY, 1993), a releitura da teoria de Waltz proposta neste trabalho busca investigar se as chamadas três imagens das R.I - o homem, os Estados e o Sistema de Estados - conseguem explicar as causas das guerras contemporâneas e como elas influenciam na estruturação do Sistema de Estados no qual se alicerça o sistema internacional. A fim de realizar a releitura desta obra, utilizo como metodologia o confronto teórico de textos que buscaram explicar as três imagens aqui apresentadas, além do auxilio de conceitos-chaves que norteiam as Relações Internacionais. Segundo Waltz, a compreensão da guerra pode ser dividida em três imagens. A primeira imagem traz a discussão filosófica sobre a natureza humana e a influência do homem na ocorrência da guerra. Na segunda imagem, Waltz concentra-se na ação dos Estados, entendidos como estrutura máxima da sociedade, sendo estes os principais agentes produtores da guerra. Na terceira imagem há a afirmação da existência de um sistema internacional anárquico, em que os Estados interagem entre si em busca de uma balança de poder. Aceitando a premissa de Clausewitz (2003) de que a guerra é a continuação da política por outros meios, podemos entender essas três imagens não apenas como níveis de análise da guerra, mas também como níveis onde a política é desenvolvida. Partindo das premissas de Waltz, identificamos a terceira imagem como central no entendimento da guerra, sendo esta influenciada com maior ou menor intensidade pelas outras imagens. Nesse sentido, podemos questionar como o contexto internacional contemporâneo, que é dinâmico e volátil, ainda demonstra a mesma inclinação à guerra apontada por Waltz. Após a segunda metade do século XX percebe-se uma emergência de novos atores no contexto político internacional, como as Nações Unidas, por exemplo. O fator internacional das Nações Unidas, contudo, não remove o caráter anárquico do sistema internacional, uma vez que a ONU é composta por Estados que produzem e aplicam políticas sobre outros Estados. Uma vez que os Estados têm por finalidade a prática da guerra, proteção, extração, aplicação de justiça, proteção e produção (TILLY, 1993), a lógica estrutural da preservação dos Estados segue, ainda hoje, a linha tênue entre a guerra e a atuação política. De acordo com Waltz, os Estados fazem as guerras porque nada impede que essas sejam feitas. Ainda que - numa retrospectiva histórica - as causas diretas das guerras tenham variado, a guerra é uma eficiente ferramenta coerciva do Estado. Neste sentido, mesmo quando na ausência de conflitos, a necessidade da preservação da soberania, do nacionalismo e da segurança que os sustentam, os Estados movimentam suas políticas para a preparação de guerra, mantendo a balança de poder e seus status quo na arena política internacional.


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