A FORMAÇÃO EM SERVIÇO: A EXPERIÊNCIA DOS ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA UNISC NO SERVIÇO DE REABILITAÇÃO FÍSICA (RFIS).

ANA JULIA VOGNACH, CIBELI SOPELSA, DANIELA TOMAZI DOSSENA, FRANCIELE DA SILVA MOITOSO, SHARYEL BARBOSA TOEBE, MARCUS VINICIUS CASTRO WITCZAK

Resumo


A formação profissional, em uma perspectiva acadêmica, reúne atividades de cunho técnico-científico, organizadas em currículos que abarcam as áreas do conhecimento específico e capacitam o futuro profissional ao exercício de determinada profissão. No ensino da Psicologia, enquanto ciência e profissão, repete-se essa mesma lógica de formação. Estágios curriculares e experiências extracurriculares - bolsas de pesquisa e extensão - aproximam o aluno de vivências específicas. Uma das possibilidades oferecidas aos alunos de graduação em Psicologia na UNISC acontece junto ao Projeto de Reabilitação Física (RFis). O RFis acontece na Clínica FisioUNISC e atende usuários do SUS de três Coordenadorias Regionais de Saúde e abrange 64 municípios do Rio Grande do Sul. São atendidos pacientes com alterações ortopédicas, traumatológicas, neurológicas, reumatológicas e cardiorrespiratórias. O trabalho cotidiano acontece de forma multiprofissional e interdisciplinar (Enfermagem, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Psicologia e Serviço Social), com acolhimentos iniciais, atendimentos individuais e coletivos em práticas compartilhadas. A discussão de casos e das facilidades/dificuldades/aprendizados fazem parte da construção deste processo de saber, assim como a exposição de sentimentos e ansiedades gerados pelos próprios atendimentos.A metodologia de pesquisa consistiu no acompanhamento de rotinas de trabalho neste serviço e em visitas domiciliares, bem como as repercussões destas sobre os acadêmicos. Também as discussões nas equipes multiprofissionais sobre os sentidos do trabalho e a repercussão no cotidiano dessas práticas foram consideradas. Analisou-se tais dados buscando compreender, neste processo de aprendizado, o que os alunos usam de si ou das suas potencialidades de acordo com o que lhes é exigido em termos de ressignificação de vivências, reconhecimento de suas próprias ansiedades e enquanto gestor do seu trabalho e produtor de saberes (CLOT, 2001). Os processos de sofrimento vivenciados nos atendimentos diversos são sublimados no próprio ato de aprender em Serviço. No entanto, mesmo com as devidas supervisões acadêmicas e discussão dessa repercussão em suas trajetórias profissionais, estes alunos experimentam ansiedades que o futuro profissional irá vivenciar. O estresse relacional, o desânimo, o aparecimento de doenças físicas e mentais em quem cuida são indicadores de que a relação cuidador-paciente é geradora de sofrimento e desgastes. Tais práticas de cuidado deparam os acadêmicos com situações difíceis que os fazem pensar sobre si e sobre os outros sob o prisma do sofrimento físico. Os enfrentamentos provocam sentimentos controversos de aversão e compaixão, de repulsa e dedicação, de repulsa e superação, em busca de diminuir a dor no outro, independentemente do próprio sofrer. Dessa forma, o profissional, afetado negativamente por tais práticas, ao negar o sofrimento do outro, nega o seu próprio, restando apenas a obrigatoriedade de um trabalho identificado com sofrimento. À possibilidade subliminar pode-se associar processos reflexivos que possibilitam ao acadêmico questionar-se sobre o seu cotidiano de trabalho e sobre como isto o afeta. Essas experiências estão, ao mesmo tempo, repletas de boas e prazerosas significações e passam a constituir um ser humano diferenciado, transformado em cuidador consciente de suas limitações e de suas possibilidades.


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