Introdução: este trabalho trata a paternidade, evidenciando algumas reflexões oriundas das diversas situações vivenciadas, por ocasião da realização do Estágio Integrado em Psicologia, a partir da observação de coleta de material genético - o exame de DNA - realizado no Serviço Integrado de Saúde da UNISC. Este exame é realizado com a finalidade de comprovar, ou não, a paternidade. Sabe-se que as construções sociais acerca do lugar da mãe, como cuidadora, e do pai, enquanto provedor do sustento material, finda por delimitar um papel secundário a esse. Tais lugares construídos e determinados socioculturalmente são modificados no decorrer da história, influenciam na constituição dos estereótipos e dos papeis impostos a cada um de forma excludente. O lugar de pai é, para muitos homens, um lugar afetivamente desconhecido e inabitado, constituindo uma lacuna mascarada ou justificada pela naturalização do envolvimento masculino com o trabalho e das responsabilidades femininas no espaço privado. À luz da psicanálise, entende-se que a paternidade produz nos homens o despertar de conflitivas e identificações relacionadas ao próprio pai, bem como traz a revivência da resolutiva do Complexo do Édipo e da Castração. Além disso, o encontro com a gravidez pode gerar incertezas e dúvidas quanto ao futuro, vivenciadas pelos pais, e sentimentos de exclusão, vivenciada pelo pai, uma vez que o alvo das atenções e preocupações passa a ser, por um longo espaço de tempo, a mãe e o bebê. Ainda que despertem tais dificuldades, o pai é importante desde as primeiras fases do amadurecimento do bebê, vindo a ocupar o lugar do 223terceiro imprescindível224 na relação mãe e bebê, de modo a possibilitar a identificação da bissexualidade do bebê, e gerar um 223ambiente suficientemente bom224. Ademais, o pai passa a representar, de modo contundente, o princípio de realidade, e a criança sente que não é mais a única a compartilhar a atenção da mãe, possibilitando a inserção no social. Através das observações de coleta de DNA foi possível observar o encontro de muitos homens com a paternidade ou com a possibilidade desta, donde se puderam construir hipóteses acerca da necessidade de negação da paternidade. Objetivos: problematizarar a questão da paternidade quando o seu encontro se faz por intermédio do exame de DNA, buscando evidenciar dificuldades apresentadas tanto pelo pai quanto pela criança neste modo de encontro. Metodologia: observação e escrita de diário de campo, realizado ao longo das sessões de exame para coleta de material genético. Resultados:240a partir das observações da coleta de DNA, do encontro de pais com a possibilidade da paternidade e do(s) filho(s) com este possível pai, percebe-se em alguns atores uma busca por um estranho que possa preencher um espaço, muitas vezes, afetivamente vazio. É240importante ressaltar que o exame de DNA não garante a paternidade afetiva, sendo muito importante, para a constituição do sujeito que alguém exerça a função paterna, dando suporte a quebra da simbiose do bebê com a mãe, a identificação com o Outro e a inserção no social. Conclusões:240é indiscutível a importância da figura paterna na constituição do sujeito e, a partir deste trabalho, foi possível refletir sobre as angústias geradas pelo o encontro com esse papel. Além disso, compreender a paternidade contribui para elaboração de intervenções mais adequadas no trato de crianças que trazem esta problemática.