MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E O DISCURSO PSIQUIÁTRICO: IMPLICAÇÃO E REPERCUSSÃO DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO SUJEITO

Bruna Francieli Reuter, Cristiane Davina Redin Freitas

Resumo


A ciência médica está tornando patológico algo que é da essência do ser humano, ou seja, um sentimento advindo de alguma situação de estresse tem se tornado alvo dos inúmeros diagnósticos psiquiátricos que são produzidos nos consultórios médicos cotidianamente. O sentimento de tristeza, por exemplo, ocasionado por uma perda ou luto é banalizado e transformado em diagnóstico psiquiátrico, como a depressão. O olhar que se dá ao paciente através do modelo biomédico hegemônico, enfoca principalmente a doença em detrimento da pessoa. Segundo Remem (1993), embora essa abordagem seja útil ao sistema médico, ela desconsidera o valor da experiência subjetiva do paciente como uma forma de fazê-lo reconhecer sua identidade e seu poder pessoal. Junto à questão de patologização do sofrimento, está ligado o crescimento da indicação prioritária da medicalização nas intervenções médico-psiquiátricas. Segundo Gonçalves e Ferreira (2008) a absolutização da medicalização tem como propósito ser agente construtor de um sujeito sem conflitos, como mais um instrumento de modelização subjetiva, de formatação de padrões de normalidade que pretendem dar conta de todos os conflitos da natureza. Com isso, cria-se uma dependência da medicação, já que o sujeito diagnosticado acredita ser incapaz de enfrentar o dia a dia sem estar com suas emoções devidamente “controladas” pela medicação. Nessa perspectiva, o presente artigo busca apresentar a repercussão do diagnóstico psiquiátrico sobre a identidade do sujeito, no qual se investigou a influência deste sob a construção dos modos de subjetividade e seu impacto nas relações identitárias e sociais. Desse modo, a presente pesquisa do tipo qualitativa e exploratória, adotou como método de coleta de dados o levantamento de informações por meio de perguntas feitas individualmente a usuários de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Santa Cruz do Sul. A elaboração do desenho metodológico se processou de acordo com a interação do pesquisador com o campo e participantes da pesquisa. Tem-se como objetivo apresentar os resultados da pesquisa que versou sobre as reflexões e análises da implicação e repercussão do diagnóstico psiquiátrico na construção da identidade do sujeito. Também se propõe a investigar se o conhecimento sobre o diagnóstico interfere na construção dos modos de subjetivação e nas relações sociais dos indivíduos e como se dá a relação com o processo de medicalização. Desse modo, foi realizada uma pesquisa qualitativa exploratória com dez usuários de uma EFS, que buscou verificar se houve ou não alguma modificação na percepção de si, a partir do conhecimento do diagnóstico psiquiátrico. Os principais achados expressam a ideia de que os sujeitos, com diagnóstico psiquiátrico, subjetivam-se através da “doença” a qual foram enquadrados, reproduzem um comportamento coerente ao diagnóstico imposto e criam uma dependência de medicação, como se esta fosse primordial para a sua existência.

Palavras-chave: medicalização; tristeza; diagnóstico psiquiátrico.



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