ESTUDO DE CASO: UM OLHAR SISTÊMICO PARA A PSICOTERAPIA INDIVIDUAL.

Juliana Rohde, Dulce Grasel Zacharias

Resumo


A família é descrita por alguns teóricos como um organismo dinâmico em que ocorrem movimentos, dependendo das variáveis que estão incidindo sobre este organismo. Os membros da família não são vistos como possuidores de certas características inatas, e sim que estão manifestando um comportamento em relação ao comportamento de outros. Estes aspectos corroboram para justificar a escolha do enfoque deste estudo: um olhar sistêmico para o caso da paciente A.M , atendida em psicoterapia individual. Trata-se de um estudo de caso, desenvolvido a partir dos atendimentos realizados com a paciente em psicoterapia individual, durante a realização do Estágio Integrado I, componente curricular do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). A.M. é uma menina de 11 anos, filha única do casal V. e A., juntos há 18 anos. A.M. chegou ao SIS por indicação da fonoaudióloga com quem já fazia acompanhamento. A queixa dos pais é de que a filha tem comportamentos muito infantilizados se comparada às outras crianças da sua idade, e que estava sofrendo bulliyng na escola em função da sua dificuldade com a fala. Os pais também apontam que A.M. não acata as ordens dos pais, sempre questionando e desobedecendo, bem como sempre busca ser o “centro das atenções”. Também apontam que a filha é muito dependente, mas essa questão aparece principalmente como queixa do pai. Ao buscarmos um entendimento dinâmico, pode-se pensar que mãe e filha estão fusionadas, emaranhadas, de forma que A.M., apesar de estar entrando na adolescência, encontra-se muito pouco diferenciada em relação à mãe. Também há uma triangulação, uma vez que V. tem medo que o marido volte a beber (há um histórico de alcoolismo), supervisionando-o em relação a isso e, ainda, utiliza-se de A.M. para tentar mantê-lo afastado do álcool, mantendo-a afastada do pai quando este bebe. A filha, por sua vez, “não gosta que o pai beba”, e aproxima-se da mãe quando este o faz, como uma forma de proteção. Há conflitos entre o casal que são gerados pelo descompasso a respeito da forma que cada um acredita que deve ser a educação da filha, o que produz um reflexo na forma como cada um age em relação a ela (um mais permissivo, fazendo as coisas por ela e o outro mais rígido em alguns momentos, querendo que a filha haja com independência, mas não mantendo sua posição em muitas situações). A.M. percebe esta incongruência e desacordo dos pais, utilizando-se da situação. Quando um dos genitores nega ou não autoriza algo que ela pede, logo ela solicita ao outro, muitas vezes alcançando seu objetivo. Por não estarem afinados e seguros em relação ao estabelecimento de limites, tampouco na manutenção dos mesmos, A.M. muitas vezes não os entende como figura de autoridade. Quanto às hipóteses diagnósticas, pode-se pensar em uma relação fusionada com a mãe e papéis parentais pouco claros. Também é possível que haja dificuldade de diferenciação de self e fronteiras difusas (emaranhadas) entre o subsistema parental e A.M. Os conceitos que dão embasamento a este entendimento são os de diferenciação de self, fronteiras e triângulos. Este caso, neste momento, é pensado a partir das perspectivas apresentadas no decorrer deste estudo, com as relações de A.M. visualizadas e entendidas a partir da diferenciação de self, das fronteiras entre os subsistemas familiares e das triangulações. No entanto, nada impede que novas informações e acontecimentos alterem este olhar e modifiquem o entendimento.

Palavras-chave: diferenciação de self; fronteiras; triângulos; família.

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