O diagnóstico/tratamento oncológico pode ser marcado por estigmas, os quais podem refletir em sentimentos de tristeza, temor pelo óbito e desesperança por parte do paciente e do sistema familiar que também pode sofrer impactos do adoecimento. Será exposto um estudo de caso, no qual a família atendida traz relatos de suas vivências e sentimentos quando Laura recebeu o diagnóstico de neoplasia maligna do sistema nervoso central, recidivada. Laura, dezesseis anos após o primeiro enfrentamento da doença, procura auxílio da Psicologia no Hospital em extrema vulnerabilidade emocional, juntamente com Roberto seu esposo, que também verbalizou significativa fragilidade diante do novo-antigo diagnóstico e tratamento que já os havia abalado anteriormente. E esse casal não está mais sozinho: agora possuem uma filha de 5 anos. De fevereiro a abril, Roberto deixou de trabalhar para exercer a função de cuidador da esposa, participando dos atendimentos psicológicos assiduamente. O presente estudo buscou, então, refletir sobre a dinâmica familiar não isolada da doença, e sim colocá-la nessa tríade composta pela família, paciente e a doença, a qual cria um novo ciclo de vida que envolve esse sistema e o câncer. Entender como os papéis e estrutura familiar podem se modificar, buscando compreender os reajustamentos possíveis nessa relação se torna objetivo principal dessa discussão. A construção deste estudo deu-se a partir da inserção, enquanto estagiária de Psicologia, em um hospital de referência em tratamento oncológico no interior do Rio Grande do Sul. A família foi atendida a partir de intervenções psicológicas baseadas na psicoterapia breve, tendo um total de 8 encontros, com duração variada de tempo. Neste caso, percebeu-se uma intensa crise vital nessa família com a recidiva do câncer. Laura e Roberto estavam apresentando traços depressivos significativos. Notou-se, ainda, com grande clareza, que o impacto da doença não atingiu somente a paciente, mas sim toda sua dinâmica familiar. A surpresa com o diagnóstico trouxe a Roberto sentimentos de desesperança, impotência e temor pelo óbito, fazendo-o também modificar seu papel dentro desse sistema. Ideação suicida, neste caso, mostrou-se presente em ambos os cônjuges, uma vez que a falta de perspectiva de Laura e Roberto diante do novo tratamento angustiava os mesmos, que acreditavam ser relevante a filha não presenciar o desgaste físico e emocional dos pais. Contudo, surgiam sentimentos ambíguos entre depressão e o possível afastamento paternal e a superproteção conjugal por parte de Roberto com Laura. Quando remete-se a adesão ao tratamento, inicialmente foi o que mais causou impacto em Roberto, visto que Laura não desejava o concretizar novamente. Em pacientes oncológicos deprimidos, principalmente devido a uma recidiva, comportamentos de autocuidado ficam diminuídos, dificultando resgatar os recursos emocionais para enfrentamento desse novo episódio. A partir da construção deste trabalho, constatou-se que o diagnóstico e tratamento dos tumores malignos exigem um olhar cuidadoso, uma vez que não se trata apenas de clinicar o biológico, mas sim perceber as fragilidades emocionais de cada paciente. Além disso, afirmo a necessidade desse olhar abranger não somente o indivíduo portador da doença, mas também sua família.

Palavras-chave: tratamento oncológico; estigmas; autocuidado.