A OFICINA DE DESENHO COMO DISPOSITIVO: POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO DE AUTONOMIA E SUBJETIVIDADE NOS USUÁRIOS.

Rafaela Tedesco de Marco, Karla Gomes Nunes

Resumo


O presente artigo tem o objetivo de discutir como as noções de tutela e autonomia perpassam o trabalho no campo da saúde mental na contemporaneidade brasileira. Essas questões emergem enquanto foco de problematizações durante a realização do Estágio Integrado em Psicologia pela Universidade de Santa Cruz do Sul em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Tipo I, no interior do Estado do Rio Grande do Sul. O estágio foi realizado no decorrer do ano de 2015. As considerações desenvolvidas ao longo do estudo buscam dar contorno a um profundo processo de reflexão desencadeado pelos desafios que a experiência vivida nos cenários de práticas coloca aos acadêmicos, mais especificamente numa Oficina Terapêutica oferecida aos usuários que necessitavam, naquele momento ou período, de cuidados intensivos ou que apresentavam dificuldades cognitivas maiores. Para nomear as continuidades que permeavam muitas das práticas realizadas e buscar produzir rupturas na história das ações de cuidado em saúde mental, tornou-se fundamental a constante referência à produção bibliográfica em torno da Reforma Psiquiátrica e da reabilitação psicossocial. Além disso, as supervisões no local de estágio e as supervisões acadêmicas foram também espaços de construção compartilhada e de desconstrução, no que tange à vontade de fazer por aquele entendido como em situação de sofrimento psíquico. Ao longo da minha escrita, percebi que estar implicada na Oficina de Desenho me proporcionou um processo de desconstrução de modos de cuidado e de olhar para outro modo que fui construindo, um modo de perceber o sujeito em sua totalidade. A discussão teórica começa a partir da Reforma Psiquiátrica e da necessidade de reabilitação psicossocial desses sujeitos ditos como doentes mentais. Em seguida, discuto o valor social que o doente mental carrega a partir de seu diagnóstico. No terceiro tópico, retomo as oficinas terapêuticas como dispositivos importantes para a promoção de autonomia do sujeito. Por fim, me aproximo das possibilidades da clínica em um serviço especializado, sublinhando a potência da escuta nesse contexto. Como desfecho do trabalho, percebe-se que em uma Oficina Terapêutica, especialmente, em uma oficina de desenho, o perfeito e o imperfeito não existem, pois cada usuário pode expressar aquilo que importa para sua vida, a sua subjetividade, tornando esse espaço um dispositivo potencializador de sua autonomia, produzindo, enfim, linhas de fuga quanto aos mecanismos de tutela ainda operantes no campo da saúde mental.


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