TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO INTEGRAL AOS USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: UMA INTERFACE POSSÍVEL?
Resumo
Este trabalho surge a partir das experiências no estágio integrado em Psicologia, realizado em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD III). O CAPS AD, junto à Rede de Atenção Psicossocial, busca proporcionar a atenção integral e contínua a pessoas com necessidades relacionadas ao consumo de substâncias psicoativas (BRASIL, 2012). Nesse percurso de estágio, surgem, então, algumas reflexões acerca dos seguintes aspectos: a Política de Atenção Integral a usuários de Álcool e Outras Drogas – PAIUAD (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003), que deve nortear o trabalho no CAPS AD; a realização da psicoterapia nesse serviço, definida pela PAIUAD enquanto uma das modalidades de atendimento ofertadas aos usuários no CAPS; e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), abordagem escolhida, nesse momento, para a compreensão teórico-prática da psicoterapia. Assim, objetivando a construção de um campo teórico que possa nortear tanto a prática clínica dentro do CAPS quanto os encontros de orientação de estágio, realizamos uma revisão narrativa de literatura (ROTHER, 2007), tentando compreender os (des)encontros entre esses três pontos. Para tanto, a presente pesquisa foi realizada em bases de dados científicas, como Scielo, Medline, Bireme e Pepsic, além de artigos, livros e documentos do Ministério da Saúde. Seguindo os preceitos da Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas, entende-se que o tratamento de pacientes que apresentam uso abusivo ou dependência de álcool e outras drogas deve ocorrer no âmbito comunitário, de forma integrada à cultura local e articulada com os demais pontos da rede de cuidados, com ênfase na reabilitação e na reinserção social. Além disso, é fundamental que os projetos terapêuticos sejam flexíveis e de baixa exigência, adequados às necessidades de cada usuário. As demandas, nesse sentido, não são necessária e unicamente voltadas para a abstinência, como se percebe na teoria e na prática, em diversos momentos. E é neste aspecto que percebemos os maiores desencontros entre a proposta de atenção integral aos usuários definida pela PAIUAD e os desafios propostos pela clínica ampliada e pela teoria e Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Conforme a revisão bibliográfica, a dependência química, enquanto um comportamento aditivo, é vista pela TCC como hábito adquirido ou comportamento aprendido, automático e passível de ser modificado ou desaprendido (PERRENOUD; RIBEIRO, 2011). As técnicas de tratamento oriundas da TCC, encontradas através desta pesquisa (Prevenção de Recaídas, Treinamento de Habilidades Sociais, Entrevista Motivacional e Estágios de Mudança) são utilizadas enquanto ferramentas clínicas capazes de promover a manutenção da abstinência. Assim, acreditamos que sejam necessárias maiores investigações acerca da aplicabilidade e da eficiência da TCC na dependência química, especialmente nos serviços públicos de saúde (como o CAPS AD). Considerando que a avaliação e o plano de tratamento individualizados são etapas fundamentais de qualquer processo psicoterapêutico, apostamos na possibilidade de apropriação das teorias e técnicas cognitivo-comportamentais no tratamento de usuários com problemas relacionados ao uso de substâncias psicoativas com flexibilidade, visando à sua adequação às necessidades e especificidades do sujeito e do contexto em questão.
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